Revolução e cultura: mulheres em ação e em cena

A presença e a ocupação das mulheres em espaços culturais ainda enfrentam invisibilidade e desigualdade; a cidade de Curitiba promove conversas e conta com agenda cultural protagonizada por mulheres

Por Giovanna Foggiatto e Priscila Oliveira da Luz

Falar da mulher na cultura, na literatura e na arte é transitar pelas temporalidades, não somente do tempo cronológico em si, mas também do espaço e da história, pelas imagens nessa dimensão espaço-temporal, as presentes, as que foram apagadas e/ou proibidas, as que precisaram ser inventadas para continuar permanecendo, e pelas mais diversas linguagens artísticas que tecem junto às mulheres suas próprias histórias de luta, resistência e força.

Falar da mulher na cultura, na literatura e na arte é resgatar o passado, é o direito à memória das realizações das mulheres, e das injustiças históricas, da invisibilidade e da desigualdade, que ainda fazem parte da jornada de vida de muitas delas, para um presente e para um futuro em que a presença das mulheres nos espaços de arte e cultura não seja mais uma novidade, mas um cotidiano potente, em que a inclusão e a equidade de gênero estejam criando e efetivando as políticas públicas. Falar sobre isso é entender a arte como um instrumento de transformação social, onde as mulheres são as que se dão voz e expressam como sentem o mundo.

Espaço cultural do cinema no centro de Curitiba

Foto: Priscila Oliveira da Luz

A participação das mulheres na história da arte no Brasil já foi tema de exposição e de pesquisa historiográfica e crítica desenvolvida pelo Instituto Tomie Ohtake. Uma matéria ligada a essa pesquisa foi disponibilizada pelo Arteref, o maior site brasileiro de notícias sobre a arte contemporânea, que questiona justamente a invisibilidade das mulheres nos espaços artísticos (segue o texto na íntegra: A participação das mulheres na história da arte). Durante muito tempo, conforme a pesquisa elucida, a produção artística das mulheres ficou restrita a posição de musas e modelos, isso porque, além da dificuldade de acesso ao ensino de arte por ser, para as mulheres, quase o dobro do que era cobrado para os homens, as mulheres artistas não eram bem-vistas socialmente, o que as distanciava cada vez mais dos espaços de visibilidade. No entanto, isso não quer dizer que as mulheres não produziam; pelo contrário, a produção artística das mulheres sempre existiu, o que acontece é que as questões de gênero eram colocadas como um critério de hierarquia, como a pesquisa evidencia, para decidir o que era obra de qualidade e o que ganharia atenção nos salões de arte, sendo que essa perspectiva não desapareceu completamente hoje em dia. 

Embora os nomes das mulheres não apareceram prontamente nos livros didáticos como inventoras, na literatura como artistas que assinam suas próprias produções intelectuais, no cinema como cineastas e diretoras, na música como cantoras e compositoras, nos espaços culturais como protagonistas da sabedoria, da inovação e da criatividade, por muito tempo, esse lugar foi usurpado das mulheres, a história da arte é escrita por elas a partir de suas poesias, músicas, textos, pinturas, gestos, e outras intervenções culturais. Esse assunto é abordado em um dos textos da Mostra de Teatro Mulher é Resistência, no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza-CE, escrito por Camilla Lima, (segue o texto na íntegra: O lugar da mulher quando a arte é resistência). Como afirma Marina Brito, atriz da companhia Bravia de Teatro, e uma das entrevistadas pela jornalista Camilla: “A arte é esse lugar que vai além da expressão, é voz que questiona e reflete a realidade, que move os padrões sociais e que reimagina um horizonte com novas perspectivas e mudanças. Mulher é resistência e ela na arte é mais que necessário, é representatividade e força, é trazer para o mundo suas narrativas contadas por suas próprias vozes”.

A presença e a revolução das mulheres no meio cultural não só estão por Curitiba como construíram a cidade, as mulheres estão em todos os lugares, nos palcos, no cinema, na literatura e na música, na ciência e na pesquisa, na engenharia e na arquitetura da capital do Paraná. A arquiteta e urbanista Valeria Figueiredo Bechara Elias, em palestra no Centro Acadêmico na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em outubro de 2023, trouxe à luz uma lista de mulheres que compartilharam e compartilham sua sabedoria no projeto e na construção diária da cidade (segue o texto na íntegra: Mulheres na revolução urbana de Curitiba). Para além de Jaime Lerner, a cidade de Curitiba foi pensada e construída por mulheres, e o setor cultural sempre teve como linha de frente profissionais mulheres, que criam grandes ações culturais e obras de incentivo à cultura, que vão desde o centro histórico, a parte mais central da cidade, aos bairros.

A programação cultural de Curitiba é diversa e conta com atrações, sendo que grande parte delas são produzidas por mulheres como protagonistas do conhecimento e da cena. No início de novembro de 2023, a Caixa Cultural de Curitiba recebeu o Festival Papo de Música, idealizado e organizado por Fabiane Pereira, jornalista, radialista, curadora e apresentadora. Foi um evento que reuniu artistas, profissionais da comunicação e jornalistas, especialmente do mundo da música, para refletir sobre o mercado fonográfico e o jornalismo musical. Além deste evento ter sido organizado por uma mulher-artista-jornalista, contou com a presença de muitas mulheres convidadas para debaterem sobre oportunidades e dificuldades no mercado de trabalho da música.

Em um dos momentos do bate-papo, a mediadora Fabiane Pereira trouxe uma discussão a respeito da insegurança que mulheres artistas enfrentam no cotidiano do trabalho, especialmente quando se veem em jornadas intensas com a falsa impressão de que quanto mais processos estiverem presentes menor a chance de perderem o lugar de criação: “A curadoria é uma opção minha, porque foi muito difícil conseguir levar para uma rádio como a Nova Brasil um programa 100% autoral. Eu tinha a impressão, quando cheguei nessa rádio há cinco anos, que se eu largasse mão um pouquinho, me pegavam a curadoria. Então, não quis largar e óbvio que sobrecarrega, mas foi o que precisava ser feito”, fala a idealizadora do festival.

            Festival Papo de Música na Caixa Cultural de Curitiba

Foto: Priscila Oliveira da Luz

Outro evento que movimentou a cena cultural de Curitiba foi a exposição fotográfica e a peça teatral Amparo, realizada pelo Teatro da UTFPR-CT (TUT). A apresentação foi aberta ao público no Auditório da UTFPR, sede Centro, e traz temas relacionados à condição humana e à experiência de solidão. Como está no próprio nome do espetáculo, amparo é proteção, é sustento, é uma forma de relação entre quem acolhe e quem é acolhido. 

“O processo de Amparo foi com base na minha avó, Leonilda Ferreira. E fazer o espetáculo foi uma forma de superar o luto também, me permitir sentir, me permitir não só cuidar, mas pedir para ser cuidada quando fosse preciso, e foi o Amparo que fez isso comigo, me permitiu sentir a presença da minha avó em mim, entrar em contato com a ancestralidade dela para conhecer mais da minha história, carregar a força da minha família. Toda vez que subo no palco, estou representando minha avó, minha mãe e minhas irmãs, e é isso que me faz artista. Saber que vim de um berço de mulheres fortes”, afirma uma das artistas do elenco da peça, Mariably Ivanka.

Peça teatral Amparo no Teatro da UTFPR-CT

Foto: Priscila Oliveira da Luz

Essa poesia do encontro vai construindo em cena o mundo particular de cada uma das personagens, os seus medos, os seus desejos, os seus sonhos, é possível entrar em contato com o mais íntimo das narrativas, a partir do jogo de luzes e gestos, criando um ambiente em que sensibilidade e experiência com o tempo se tornam as palavras-chave para refletir a existência do ser humano. No palco, em cena, na palavra do gesto, as mulheres-artistas protagonizam os seus próprios mundos e expressam no espetáculo experiências únicas com o seu eu e com os outros. Esse movimento das artistas estarem somente no palco, expressando seus sentimentos individuais e montando uma estrutura corporal que se mistura na produção criativa, amparando o que há de mais íntimo dentro de si e fora e, ao mesmo tempo, construindo junto com as pessoas. 

“Existe uma questão histórica e cultural que o ato de ser mulher é uma performance. E eu me coloco muito nesse lugar porque fui me descobrindo artisticamente com a pintura corporal. E onde me encontrei de fato foi na performance artística, que vai para um lado mais abstrato, não é uma cena com início, meio e fim, é um momento, uma vivência. E performar no palco do Amparo foi minha primeira experiência, e trazia esse desafio de ser uma performance que não fazia para mim, mas para outras pessoas sentirem, assistirem, se identificarem ou não. A performance é um momento íntimo para mim”, compartilha Mazi Moreto, outra das artistas da peça.

Elenco e diretor da peça teatral Amparo

Foto: Priscila Oliveira da Luz

Junto ao espaço do teatro, o cinema também conta com protagonistas mulheres em narrativas cinematográficas, e o Cine Passeio, sala de exibição no centro de Curitiba, promoveu no mês de novembro um bate-papo com a atriz Vera Holtz sobre o lançamento do longa-metragem, Tia Virgínia, que tem a direção de Fabio Meira e que já conquistou cinco prêmios e menção honrosa no Festival de Gramado. Em bate-papo realizado no Cine Passeio, no início de novembro, a protagonista do filme compartilhou um pouco de seu processo criativo e a presença dessa personagem na trajetória de sua carreira: “Estou imensamente feliz por estar aqui e compartilhar esta obra com o público, pois é neste momento que o filme ganha vida, inspirando reflexões e reconfigurando nossa compreensão. À medida que o filme toca aqueles que viveram experiências similares, criamos um diálogo significativo”.

Cena final do filme Tia Virgínia divulgado no Cine Passeio

Foto: Priscila Oliveira da Luz

É um filme que coloca em pauta várias questões de grande relevância, tanto para o cinema brasileiro quanto para a sociedade, como liberdade, quebra de padrões sociais e a invisibilidade do trabalho de cuidado das mulheres. “O filme nos traz inúmeras reflexões sobre a condição feminina e acredito que nos proporciona também uma mensagem para que não sufoquemos o que nos move, porque o grito pela liberdade ecoa o filme inteiro e depois que acaba continuamos com ele como uma força para nos mover também”, conclui uma das espectadoras da plateia, Ana Paula Oliveira da Luz.

The Eras Tour: Como a economia local das cidades têm sido afetada pela passagem da turnê da artista pop Taylor Swift

Por Aline de Meireles

Mesmo sob chuva e horas de fila, os fãs da cantora Taylor Swift tiraram a última sexta-feira de novembro (24) para se dedicar ao que para muitos é o sonho de uma vida. Com roupas fazendo referências a looks da artista, trechos de músicas e a estéticas dos álbuns, o que não faltaram foram cores, brilhos e muitas lágrimas nos olhos por todos os cantos ao redor do estádio Allianz Parque em São Paulo, onde aconteceu o primeiro show da The Eras Tour – turnê internacional da artista.

     O show, que possui pouco mais de 3 horas e meia de duração, tem a proposta de contemplar os 17 anos de carreira da artista, passando por sets de seus 10 álbuns lançados. Durante o espetáculo, ocorrem trocas de cenário e figurino para representar cada um destes trabalhos, além de pausas em que a artista conta um pouco mais sobre seu trabalho, como surgiu a ideia da turnê e o motivo dela estar regravando seus primeiros 6 álbuns.

Foto: Aline de Meireles / Imagem capturada no show do dia 24 de novembro de 2023 durante o primeiro set que é dedicado ao álbum “Lover”.

     Eventos de grande porte como esse têm uma demanda de diversos setores e organizações que interagem de forma direta ou indireta com eles, que vai desde o setor de segurança, aos comerciantes, hotéis, transporte e o próprio público, por exemplo. 

     Em entrevista para a CNN Brasil o especialista em Turismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Coelho comentou um pouco sobre o impacto econômico desses eventos referentes às transações financeiras imediatas, como as vendas de ingressos, pagamento de salários, contratação de serviços e compra de insumos que serão vendidos ou distribuídos durante o show e destacou os efeitos disso nos demais setores. “Eles surgem como resultado dos gastos diretos, criando um efeito multiplicador que se propaga por meio das interações econômicas”, diz. Para ele, esse tipo de resultado é uma justificativa para o investimento milionário que acontece, já que em troca há um retorno não só financeiro, como cultural e turístico.

     Fernando Guinato, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e diretor do Sheraton WTC, em entrevista para a CNN Brasil afirmou que desde o início do ano os eventos têm feito crescer muito a procura nos hotéis de São Paulo, já que a grande maioria dos shows internacionais acontecem na capital, e após a pandemia a busca por esse setor do entretenimento tem aumentado cada vez mais.

     Ao conversar com Vitor Lucas Gonçalves, funcionário do hotel Normandie, situado no centro da cidade de São Paulo, foi informado que mais da metade dos hóspedes durante o final de semana do show estavam ali para comparecer ao evento. Devido ao grande fluxo de reservas, são contratados funcionários temporários para dar conta da enorme demanda, que difere do restante do ano. Além disso, é o momento em que ocorre um lucro maior, já que o valor dos quartos varia pela demanda e com o quão próximo do evento foram feitas as reservas. ”Muita gente tentou reservar para essas datas nas últimas duas semanas, mas estamos com esses dias lotados faz pelo menos um mês”, afirmou o funcionário.

     Na Filadélfia, Estados Unidos, o Banco Central Americano chegou a citar Taylor Swift como responsável pelo aumento de lucro no setor hoteleiro, como reportado pela revista Forbes em julho de 2023. Assim como também ocorreu em Cincinnati, que faturou mais de US$2,6 milhões só em hotéis durante a passagem da cantora por lá. Ainda medindo o impacto econômico que a artista vem tendo pelas cidades por onde passa, a Billboard reportou que essa já é uma das turnês mais lucrativas da história com o faturamento total possivelmente ultrapassando US$1 bilhão, já que os shows devem seguir até o final de 2024.

    Na passagem da cantora pela capital paulista, alguns comerciantes das regiões ao redor do Allianz Parque mudam completamente a rotina para se adaptar a alta demanda de clientes que chegam junto com o evento, tanto nos comércios como padarias, restaurantes e bares, como os ambulantes que ficam ao redor do estádio vendendo produtos relacionados a artista, ou itens essenciais no momento como carregador portátil, capa de chuva e capa de celular à prova d’água. 

     Como é o caso da Maria de Fátima Cardoso, que possui um carrinho de cachorro quente a duas quadras do estádio, ela afirmou que tenta se organizar ao máximo para épocas como essa, já que muitas vezes chega a ganhar a quantia de dois a três meses de trabalho em um único final de semana. “Eu começo a me preparar pelo menos um mês antes quando ficamos sabendo que vai acontecer algum evento grande, aí conseguimos comprar mais produtos com os fornecedores por um valor menor e ter mais lucro, né? Nos dias próximos dos shows abrimos mais cedo e fechamos mais tarde, muita gente acampa do lado de fora do estádio então quem está aberto acaba vendendo mais”, contou.

    Ainda sobre o lucro da rede de comércios, Matheus Daniel, líder da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), explica como isso afeta o segmento: “Para o setor, é sempre muito positiva a movimentação das cidades, com as festas, festivais e shows, porque eles geram oportunidade de negócio”, reportou em uma entrevista em julho deste ano para a CNN Brasil.

    O público direto, que faz com que toda essa movimentação econômica aconteça, são os fãs que muitas vezes viajam de todos os cantos do país para realizar o sonho de vivenciar a The Eras Tour. Nos dias de show em São Paulo ainda foi possível encontrar fãs de outros países vizinhos como Bolívia, Chile e Argentina.

Foto: Aline de Meireles / Imagem capturada na fila do show no dia 24 de novembro de 2023.

     Ao conversar com os fãs presentes na fila para o show do dia 24, muitos se mostraram apreensivos, devido aos fatos ocorridos nos shows do Rio de Janeiro na semana anterior, nos quais devido às altas temperaturas e à falta de organização da equipe produtora do evento – a Time for Fun, muitas pessoas passaram mal chegando a desmaia;, e uma fã, de 23 anos, foi a óbito, além de ter um dos shows (18 de novembro) adiado.

Os fãs vêm do país inteiro, estados como Amazonas, Pernambuco, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Victoria Faccipieri Pitarelli, 20 anos, e estudante de Pedagogia, contou como foi para chegar ali: “Eu não moro tão longe daqui, sou de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Vim de ônibus para ficar apenas hoje e amanhã na cidade, vou ficar na casa de alguns familiares que moram aqui na capital.” A estudante afirmou que juntou dinheiro alguns meses para realizar esse sonho, cerca de 3 salários mínimos. “Era o sonho da minha vida, escuto a Taylor desde criança e é minha artista favorita, a música dela me ajudou nos momentos mais difíceis”, concluiu.

    Os fãs, auto denominados “swifties” relataram um pouco do motivo de gastar um valor alto com o show. Afirmam que muitas coisas que fazem parte da experiência acabam somando nesse valor, como as roupas personalizadas usadas pela maioria do público que fazem referência a roupas usadas por Taylor Swift, música ou álbuns lançados por ela. Assim como as pulseiras de miçanga presentes nos pulsos dos fãs, que fazem parte de uma tradição iniciada nos shows dos Estados Unidos, na qual eles compartilham pulseiras com frases que lembram a artista em referência à música “You’re on your own, kid”, presente no álbum mais recente da cantora, “Midnights”.

Foto: Camila Santos Soares / Imagem capturada por uma fã na fila do show no dia 24 de novembro de 2023, na foto é possível ver as pulseiras mencionadas acima e o número “13” que faz referência ao número favorito/da sorte da cantora, utilizado da mesma maneira que a artista usava em seus shows da primeira turnê do álbum “Fearless”.

Os shows do Brasil se encerraram no dia 26 de novembro, sendo os últimos de 2023. Em fevereiro a artista volta a performar, dessa vez em Tóquio, Japão. O fenômeno econômico acontecendo ao redor desse evento já vem sendo noticiado e estudado em diversos países do mundo e a movimentação vem sendo comparada com o sucesso de Michael Jackson, nos anos 90.

The Eras Tour como uma experiência completa

A artista Taylor Swift é conhecida pelo seu dom com as palavras e a forma com a qual a cantora consegue dar vida às histórias vivenciadas ou criadas por ela.

Como grande parte dos fãs brasileiros que entrevistei, conheci o trabalho da cantora em 2008 por meio do videoclipe da música “You Belong With Me”, que era transmitido inúmeras vezes nos programas sobre música da MTV. Mas acredito ter me tornado fã a partir do lançamento da canção “Blank Space”, do álbum ‘1989’, que chegou com uma sonoridade nova, entrando no gênero pop e saindo do country. Também foi a partir daí que passei a prestar mais atenção no que a artista queria passar em suas músicas e, desde então, tenho essa ligação com o trabalho dela.

Ao anunciar que traria a turnê para o Brasil, foi possível ver o fenômeno que Taylor Swift virou no país, a dificuldade de comprar os ingressos noticiado em diversos veículos de imprensa (como Folha de S. Paulo e O Globo) exemplificam bem esse fato. 

A experiência de vivenciar o show começou muito antes de novembro, já que, além de transporte e hospedagem, existe também o investimento em roupa e nas famosas “friendship bracelets” (pulseiras da amizade). Confeccionei cerca de 100 pulseiras (de julho a novembro) que faziam referências a trechos de entrevistas que a artista participou, nome das minhas músicas favoritas, trechos dessas mesmas músicas e títulos dos 10 álbuns de estúdio presentes na discografia da cantora. Ademais, a busca por inspiração de looks para o evento me levou a era “Reputation” onde predominam cores escuras, cobras e sapatos pesados como botas e coturnos.

Desde o início da viagem, no aeroporto, até chegar ao Allianz Parque, em São Paulo, para todos os lugares para os quais eu olhava, via fãs com camisetas ou objetos que lembravam a cantora. Todos estavam extremamente alegres, educados e simpáticos, o que tornou o tempo de espera para o show e as entrevistas realizadas muito satisfatório.

O espetáculo – já que acredito que a palavra “show” não é o suficiente – é inebriante do começo ao fim. São mais de 3 horas sem nenhum intervalo onde temos, como público, uma apresentação de toda a história de Taylor Swift como cantora e compositora, e somos levados por uma viagem através das eras/álbuns. Vamos de músicas calmas com performances mais teatrais, até melodias mais dançantes onde é possível enxergar o estádio todo (com o auxílio das pulseiras de LED que todos ganhamos ao entrar no Allianz)  pulando, cantando e se divertindo. Além das músicas e de pausas onde a artista conta um pouco do seu processo criativo e do motivo de estar regravando seus álbuns antigos para poder ter o direito autoral sobre suas composições, o palco possui diversas imagens projetadas que complementam cada narrativa apresentada. Posso afirmar que, sem dúvidas, é o melhor espetáculo musical que já presenciei.

Mulheres no esporte e a luta pelo respeito dentro e fora de quadra

Por Layane Mirelle, Isabelle Paola e Mariana Mantovani

Em um mundo em que há segregação entre mulheres e homens em diversos âmbitos das sociedades, o esporte é consolidado como o maior cenário de discriminação quando o assunto é desigualdade de gênero. Típicas ideias sobre a ‘maior força de um homem’ e ‘os hormônios masculinos’ são capazes de apagar histórias inteiras de mulheres que não conseguiriam ganhar na vida o que um jogador de futebol ganha por algumas partidas. Dentre as principais discriminações no mundo esportivo, de acordo com o Instituto DataSenado, o assédio em quadra e fora dela é um preocupante motivo de exclusão e desmotivação para as mulheres do meio, além de outros assuntos pessoais como casamentos ou gravidez das jogadoras.

Numa breve linha do tempo sobre os Jogos Olímpicos, os dados do Comitê Olímpico revelam que em sua estreia, em 1896, não houve nenhuma participação feminina. Apenas na edição de 1900, em Paris, que 2,2% das atletas eram mulheres. A participação tardia dos times femininos em uma grande competição como essa demonstram algo ainda muito enraizado entre torcedores e líderes do segmento esportivo. Enquanto homens possuem patrocínios milionários e fãs alucinados, mulheres ainda precisam arcar com custos de viagens para representar o próprio país em torneios. 

Mesmo com algumas conquistas interessantes, como a recente visibilidade dada ao futebol feminino pelas transmissões ao vivo da Rede Globo da Copa do Mundo Feminina de 2023, por exemplo, as discussões acerca dos problemas no esporte continuam cada vez mais aprofundadas. O podcast Gente Conversa, da própria Rede Globo, comentou que, desde sua criação em 1991, o torneio (Copa do Mundo de Futebol Feminino) evoluiu em busca por reconhecimento para se tornar um catalisador global do futebol feminino. E que, neste ano, quebrou recordes de audiência, impulsionando ainda mais o crescimento do esporte. 

Porém, uma nova discussão foi levantada acerca do conforto das mulheres dentro de seus próprios times, pois o assédio é muito presente nesse ambiente. A liderança dos homens dentro dos clubes gerou polêmicas especialmente na última copa, como a situação em que o chefe da federação de futebol da Espanha, Luis Rubiales, forçou um beijo na boca da camisa 10 da seleção, Jennifer Hermoso, após a vitória do time no Mundial Feminino em Sydney. 

Reprodução: ESPN e Comitê Olímpico Internacional

A tabela acima revela a discrepância entre homens e mulheres como treinadores de seleções olímpicas nas edições de 2010 a 2016. Em uma rápida análise, nota-se a forte presença dos homens como treinadores mesmo que em ligas femininas, demonstrando que a representatividade não está apenas escassa dentro das quadras. 

Por outro lado, o Jornal da USP (Universidade de São Paulo) revelou que houve um aumento notável na presença feminina nos cursos de esporte. Em 2009, a participação era de aproximadamente 20% mulheres e 80% homens. Em 2023, houve um aumento para 40% de mulheres, porém, a professora do curso de Ciências do Esporte na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),Larissa Rafaella Galatti, comentou que é necessário monitorar esses números, pois podem ser excepcionais. Isso comprova que a luta ainda é longa, mesmo com grandes atletas e conquistas já feitas.

As mulheres que exercem algum tipo de esporte diariamente sofrem consequências, inclusive por meio das redes sociais, é o caso de comentários ofensivos além de diversos gestos obscenos. Um exemplo foi o da jogadora Marta, na Copa do Mundo Feminina de 2019. A atleta fez uma parceria com a marca de cosméticos Avon e entrou em um jogo usando um batom vermelho nos lábios. Ela assumiu que sempre usava maquiagem nas partidas, há tempos antes de fechar a parceria com a marca. Entretanto, Marta foi bombardeada nas redes sociais por comentários machistas, mas teve forte apoio da torcida feminina.

Dentre esses e outros problemas, é necessário destacar a força das mulheres que lutam para fazer o que amam e passam por cima de obstáculos capazes de silenciá-las. Não só o futebol, mas também o basquete, handebol e outras modalidades possuem histórias inspiradoras que devem ser contadas.

Taça das Favelas 2023 e o esporte como agente de transformação

O futebol feminino não ficou de fora da maior competição entre comunidades do mundo, de acordo com o site oficial do Governo Federal do Brasil. A Taça das Favelas possui edições estaduais por todo o Brasil e o Paraná contou com 16 equipes formadas por mulheres. Ao incluir a modalidade, o campeonato incentiva a participação e valorização das atletas. A competição oferece um caminho para que mulheres das comunidades de todo o Estado possam ter novas oportunidades e alcançar os próprios sonhos por meio do futebol. 

Meiryhelen da Paixão, técnica da equipe Vila Corbélia – Foto: Mariana Mantovani

Meiryhelen da Paixão, técnica da Vila Corbélia, time feminino que chegou às quartas de final da disputa, ressaltou a importância da palavra oportunidade no vocabulário de jovens talentosas das comunidades: “Tem muito potencial aqui. Tem meninas que, se você olhar o currículo, é fabuloso. E só precisam de uma oportunidade, que a Taça das Favelas proporciona, para dar um passo maior no esporte’’. 

Quando a temática são comunidades em situação de vulnerabilidade, sabe-se que a luta feminina é ainda maior. A técnica conta que todas as jogadoras querem ser olhadas como homens que são admirados em quadra e acreditam que viver de seus próprios objetivos deveria ser tão fácil quanto é para um jogador. Ela ainda pontua as dificuldades sobre o papel materno das mulheres que trabalham em tempo integral como donas de casa e tentam se dedicar ao esporte. 

Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), chamado ‘Implicações sociais e emocionais da gravidez para atletas’, discutiu o impacto emocional e social da maternidade em atletas, analisando 19 pesquisas entre 2000 e 2022. Identificou-se que a maternidade requer ajustes emocionais, apoio social e políticas de trabalho específicas no esporte. Para as pesquisadoras, é crucial que treinadores, clubes e patrocinadores ofereçam suporte emocional e políticas laborais adequadas para preservar a saúde física e mental das atletas durante a maternidade para que haja a segurança de que uma fase da vida não irá acabar com sonhos no esporte. Visto que isso pode resultar na perda de contratos, afastamento de equipes nacionais e até mesmo interrupções em eventos olímpicos.

Ao final do campeonato, é realizada uma convocação de atletas e técnicos que tiveram destaque nos jogos, para disputar a Taça das Favelas a nível nacional. Meiryhelen fará parte da comissão técnica da equipe paranaense feminina e, novamente, ressaltou como a visibilidade pode mudar o cenário atual em diversos aspectos. “É a maneira como muitas meninas, por serem oriundas de regiões simples de Curitiba, têm a chance de ajudar as famílias. A gente sabe que o esporte abre muitas portas, e se uma menina dessas, em um campeonato como a Taça das Favelas, consegue chegar a uma equipe de nível nacional, com certeza ela acaba tendo isso como incentivo de mudar sua vida; e elas merecem isso igual os times masculinos conseguem”

Basquete feminino e a luta pela consolidação no esporte

Em Curitiba, no coração do Boa Vista, reside a Jackline Rachel, que aos 59 anos acumula 25 anos de experiência no basquete feminino e lidera o time curitibano Quebrada do Basquete, que vem conquistando medalhas e troféus em competições locais. Nascida no Rio de Janeiro, sua paixão pelo esporte começou aos 9 anos, quando ingressou no basquete durante a escola e participou de diversos campeonatos de interclasses.

Durante a adolescência, Jackline esteve presente ativamente em competições regionais, consolidando sua presença no cenário esportivo. Contudo, a vida a levou por outros caminhos, que interromperam temporariamente a carreira no basquete. A correria do dia gerada por trabalho, faculdade, casamento e filhos a manteve afastada das quadras durante 20 anos.

A volta às quadras

Time quebrada do Basquete após conquistar o Campeonato Master Feminino / Foto: Instagram

Ao decidir retornar ao basquete, Jackline se deparou com a invisibilidade do basquete feminino: ela não encontrava times para participar e nem atletas dispostas a jogar. Foi em 2018 que tomou a iniciativa e fundou o time Dark que, mais tarde, se transformaria no Quebrada do Basquete. Jackline, querendo dar uma personalidade para o time, pediu à filha para criar o logo. Com as camisetas feitas, começou a jornada de buscar atletas. Ela não foi seletiva: chamou as colegas da escola da filha, suas amigas antigas e, aos poucos, foi montando um time diverso com atletas de várias idades. Com 10 jogadoras, a equipe recém formada conquistou o quarto lugar na competição e ficou no pódio ao lado de times experientes. 

Logo do time quebrada do Basquete / Foto: Instagram

Querendo consolidar a equipe, Jack, como prefere ser chamada, foi atrás de um lugar para treinar e conseguiu uma parceria com seu amigo, que comandava um time chamado Quebrada do Basquete. Foi nesse momento que o Dark mudou de nome. Essa união não só garantiu o espaço necessário para treinos, mas também deu uma nova identidade ao no clube feminino.

A história esportiva de Jackline vai além das quadras locais, destacando-se por sua participação em competições de grande relevância. Representando o Paraná em uma competição nacional, Jackline foi para São Luís do Maranhão e conquistou o terceiro lugar, ficando atrás apenas de São Paulo e Santa Catarina. Seu desempenho na competição nacional chamou a atenção da seleção brasileira, que a convidou para representar o país nos Jogos Pan-Americanos de 2024, programados para ocorrer no México, em abril.

Machismo em quadra

A trajetória de Jackline no basquete feminino não esteve isenta de desafios, e o machismo em quadra foi uma realidade enfrentada por ela. Em meio a partidas e treinos, Jack vivenciou experiências em que sua presença e habilidades eram questionadas simplesmente por ser uma mulher no universo esportivo dominado por homens. Ela conta que teve um episódio marcante dentro da quadra da praça em que um rapaz se recusou a jogar no mesmo time que ela porque senão iria perder.

Além disso, o machismo também se manifestou por parte de outras mulheres,  ela enfrentou o preconceito de algumas colegas de quadra que viam o basquete como um esporte ‘’masculino’’, um estigma que ainda persiste até os dias atuais. Independentemente de todos esses obstáculos, ela conta que hoje, com a experiência e habilidade que adquiriu, se tornou respeitada tanto pelos homens jovens quanto pelos mais velhos: ‘’Atualmente, pela experiência e pela minha profissão eles me respeitam, até brincam me chamando de gladiadora, porque eu enfrento e jogo no mesmo nível’’.

Além de liderar o Quebrada do Basquete, ela desempenha o papel de perita judicial e está envolvida em seu doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde a pesquisa se concentra na área forense. Em meio a tantas atividades, Jack vivencia uma verdadeira maratona, equilibrando sua paixão pelo basquete com as demandas da vida pessoal e acadêmica. Para conseguir dar conta de tudo, sua rotina começa às 5h e termina às 23h. Em meio a todas responsabilidades, Jack destaca que o basquete não é apenas um esporte, mas uma fonte essencial de desestresse. ‘’O esporte pra mim é algo que me sustenta, toda minha energia negativa vai embora quando entro em quadra’’, conta. Dessa forma, o esporte para ela se tornou um pilar vital em sua vida, pois proporciona equilíbrio emocional e físico.

Jackline e seu cachorro  / Foto: Acervo pessoal 

Para o futuro, ela almeja a vitória do Pan-Americanno no México, também quer finalizar sua tese de doutorado, prestar concurso e ver seus filhos na faculdade, desafios que, ela acredita, só vai conseguir realizar graças à disciplina e ao bem-estar trazidos pelo esporte.

Handebol de areia e a ascensão da seleção feminina

O esporte beach handball, ou handebol de areia, teve início em 1992 e até hoje não é considerado um esporte olímpico. Com muitos desafios para se consolidar, o sonho de jovens atletas é representar o próprio país no esporte do qual são apaixonadas. Lavinia Soares e Mariana Rocco possuem 18 e 19 anos, respectivamente, e se conheceram após serem escolhidas na peneira para participarem da seleção brasileira juvenil de handebol de areia. Atualmente, Mariana reside em Paranaguá, litoral do Paraná, e Lavinia em João Pessoa, Paraíba.

 

Seleção Brasileira Juvenil de Handebol de Areia / Foto: Instagram

Mesmo vivendo realidades diferentes, as duas atletas afirmaram que sempre foram interessadas por esporte e que a escola foi onde a vontade de se profissionalizar cresceu. Durante a pandemia, aconteceu uma peneira para escolher as melhores atletas de todos os clubes do Brasil para selecionar 10 meninas para disputar as competições. “A gente tinha que mandar vídeos treinando em casa. Foi na época do isolamento social da pandemia e, mesmo com todas as dificuldades, eu senti que tinha que levar aquilo (a peneira) a sério”, comentou Mariana sobre o início da realização de seu sonho.

A primeira competição em que participaram juntas com a camisa do Brasil foi no dia 20 de março de 2022. Após treinos intensos e muitos aprendizados, as meninas contam que tiveram que superar a si mesmas diariamente para alcançar o objetivo principal. “Foi muito complicado ficar entre as 8 melhores atletas. A convocação foi durante a própria competição e a gente soube quem continuaria competindo logo após perder um jogo. Era muita pressão”, afirmou Lavinia após seu primeiro jogo pela seleção de handebol de praia.

Para Mariana Rocco, o esporte é maravilhoso, mas requer muita responsabilidade, especialmente financeira. Sabe-se que o esporte feminino não possui a mesma valorização que o masculino e isso reflete na motivação das atletas, que precisam desembolsar muito dinheiro para representar o próprio país. Apesar de todas as diferenças e comparações com as categorias masculinas, as atletas sentem que a vontade de realizar o que tanto almejam e colocar a mão no peito durante o hino nacional antes de uma partida é o que motiva a continuar e querer ser melhor a cada dia. “Quando estamos fazendo aquilo que mais amamos, não há motivação maior”, disse Lavinia.

Alguns países investem mais no esporte do que o Brasil. A BBC News Brasil, em 2016, usou os Estados Unidos como um exemplo de país que investe muito no esporte feminino e explicou que esses desfechos não surgiram por acaso; são, em grande parte, reflexo de uma legislação norte-americana. A Title IX, estabelecida em 1972, exigiu que as instituições educacionais oferecessem oportunidades iguais de ensino para homens e mulheres. Dada a intensa cultura esportiva do país, essa lei também promoveu a equiparação nos investimentos esportivos para os gêneros masculino e feminino.

Lavinia e Mariana decidiram falar sobre esse assunto, focando nas raízes do problema: o machismo antiquado que tenta dizer o que uma mulher pode ou não fazer. ‘Jogo masculino é mais interessante’, ‘jogos femininos não têm tanta emoção’ e ‘a seleção masculina conquista mais prêmios que a feminina’ são frases escutadas com frequência pelas jogadoras, até por parte de pessoas que estavam ativamente na competição, não apenas torcedores. “Já me disseram que, se dependesse da presidência da seleção, apenas o masculino estaria viajando e competindo. Parece que a gente tinha que sempre ser grata pelos homens da competição por estarmos ali, não pelo nosso esforço”, compartilhou Mariana sobre seu último mundial.


Seleção Brasileira Juvenil de Handebol de Areia / Foto: Instagram

Uma questão muito delicada abordada pelas garotas foi o uso de sunquíni como uniformes. A federação obrigava as atletas a usarem uma espécie de biquíni na parte de baixo e um top na parte de cima, expondo partes de seus corpos durante a partida. Em julho de 2021, a seleção norueguesa de handebol de areia foi punida com uma multa de 9 mil reais por usarem shorts ao invés dos biquínis. O assédio e o desconforto vividos pelas atletas mudaram o cenário e, após muita luta, a lei do uso obrigatório de sunquíni foi revertida.

As duas entrevistadas passaram, e ainda passam, por momentos injustos de assédio enquanto estão na areia e Mariana contou um pouco sobre como isso é comum: “Tive algumas experiências. Uma vez eu joguei em Matinhos, aqui no litoral do Paraná, e as pessoas não paravam para assistir o handebol, paravam para ver meninas jogando bola de biquíni. Isso doía muito, ainda bem que agora jogamos de shorts e regata, pois nosso talento vale muito mais do que nosso corpo naquele momento. Estamos ali para jogar do mesmo jeito que homens também jogam”.

Além dos olhares que deixam as jovens desconfortáveis, há a comparação com o time masculino por parte dos treinadores e funcionários das equipes em que participam. As esportistas se perguntaram várias vezes por que não são comparadas com outras atletas mulheres referências no esporte, ao invés de homens. A psicóloga esportiva Jaque Brenner, formada há 32 anos e atuante na cidade de Balneário Camboriú, Santa Catarina, comentou sobre como essas comparações e desvalorização afetam diretamente o psicológico das jogadoras: “A desvalorização no esporte afeta diretamente a autoestima e autovalorização das atletas, além de tirar o foco para aspectos externos à quadra como premiações, tratamentos de bastidores, mídia diferenciada etc. A atleta deve trabalhar o foco em si mesma, no desempenho e na construção da carreira profissional, buscando não se ater a comparações”.

Ao comentar as reações do público e da sociedade em geral em relação às questões de gênero, Marina afirmou: “A gente não perde as esperanças e dá para perceber que a sociedade está mudando, mesmo que aos poucos. Ouvir falar sobre igualdade de gênero vem sendo muito mais comum, principalmente em escolas, por exemplo. Eu acredito em um mundo melhor”.

As metas daqui para frente aquecem o coração das jovens meninas em ascensão no beach handebol, especialmente o sonho das Olimpíadas e da entrada na seleção adulta. “Quando a gente tem essa meta desde pequena, de jogar profissionalmente, nós esperamos que a seleção pense na juventude como uma promessa para mudar cenários. Ainda há muita falta de visibilidade e de patrocinadores; mesmo assim, é lindo fazer o que a gente ama”, afirmou Lavinia. O reconhecimento e dar orgulho para a família é o que faz os olhos das atletas brilharem, muito além de um título mundial e das incríveis viagens que já viveram com a camisa do Brasil.

A paixão pelo futebol herdada dos pais

Entre as paixões pelo esporte no mundo todo, o futebol é um dos mais populares. De alguns tempos para cá, o futebol feminino vem tomando conta e sendo mais retratado nos veículos de comunicação, seja por conta da prática exercida pelas mulheres ou pelas torcedoras.

Torcedora em campo / Foto: Canva

No âmbito fora do campo, há as torcedoras que vivem juntamente do seu time de coração no dia a dia, frequentando os estádios e assistindo aos jogos. As torcedoras estão se unindo cada vez mais para derrubar o machismo dentro do esporte. Três torcedoras contaram histórias sobre sua vida acompanhando o futebol desde pequeninas, influenciadas pelos pais.

Entre elas está Ester Souza Mesquita, de 18 anos, moradora de João Pessoa, na Paraíba, mas torcedora do Atlético Mineiro (Galo) de Minas Gerais. Ester disse que a paixão pelo esporte começou aos 8 anos de idade; seu falecido pai era completamente apaixonado por futebol e, em especial, pelo Botafogo do Rio de Janeiro, e foi ele que a ensinou a amar. Ester relatou que o futebol causa sentimentos indescritíveis: “Ver seu time ganhar, sendo campeão, virando aquele jogo que todos diziam que não era possível. O futebol ensina diariamente a quem realmente vive as emoções, as fases ruins do clube nos ensinam a passar pelas dificuldades, que embora sejam dolorosas, ensinam e lá, no futuro quando a fase boa chegar, aprendemos a lição de que temos que passar pelas dificuldades para um bem maior”.

A torcedora também comentou que o futebol foi uma parte essencial para a superação do falecimento de seu pai. “O futebol é lindo, o futebol cura. Quando eu perdi meu paizinho, o futebol me salvou demais, era minha válvula de escape. Então, realmente, quem julga nunca aprendeu a amar”, comentou Ester.

Myrella Victória Santos Oliveira, de 17 anos, moradora de Sergipe e torcedora do Confiança, teve uma ligação com o futebol desde pequena, crescendo e assistindo jogos com o pai e o avô. Atualmente, ela é integrante de um dos movimentos femininos de futebol do time azulino, as ‘Guerreiras das Arquibancadas’. Myrella contou como é participar do grupo de torcedoras: “Acho importante a existência desses movimentos justamente para o incentivo da mulher na arquibancada, para mostrar nossa força e nossa luta, com união. Faço parte e amo, é inclusivo e com muitas iniciativas legais”.

Quando questionada sobre quais são as iniciativas do movimento, ela explica: “Temos o costume de fazer ação social para as crianças carentes, seja a ação apenas do movimento ou junto com alguma zona da torcida organizada do clube. Também abordamos pontos importantes e que merecem uma ênfase e conscientização nas nossas redes sociais”. Dessa forma, as atividades de voluntariado ajudam os grupos femininos de clubes a terem um verdadeiro espaço na sociedade, demonstrando que as mulheres desses movimentos conseguem ir além das quadras e retribuir todo o bem que o esporte traz para elas.

Outra grande fanática em futebol e influencer é Júlia Gabriely, de 18 anos, moradora de São Paulo e torcedora do São Paulo, cujo time é o mais vitorioso do Brasil em quesito de campeonatos internacionais. Assim como Myrella e Ester, Júlia foi influenciada pelo pai desde pequena a ter essa paixão pelo futebol. O amor pelo São Paulo foi “à primeira vista”, afirmou. Inclusive, a torcedora confia na importância do esporte feminino para a sociedade: “Eu acredito muito que o crescimento da modalidade e o crescimento das mulheres no meio afetam o público machista do esporte. O futebol é para mulher, tanto dentro como fora de campo”.

Júlia relatou que possui uma tatuagem inspirada no time do coração dedicada a uma das jogadoras do time feminino do São Paulo, “é o autógrafo da Letícia Alves, lateral direita do São Paulo. Eu acompanho ela desde a categoria sub-15, e hoje vê-la no profissional é gratificante demais! Inclusive, este ano, a Letícia completou 20 anos e está jogando no profissional, sendo considerada a melhor lateral direita do campeonato paulista”. 

A paixão da torcedora vai além disso, ela também faz vídeos para as plataformas do TikTok e do Instagram, falando sobre futebol. A jovem conta que, infelizmente, ainda há homens e até mulheres que promovem discursos de ódio através das redes sociais, e com Júlia não foi diferente: “Parece que tenho sempre que provar que sei do que estou falando”.

Paraná agiliza a abertura de pequenas empresas com a Lei de Liberdade Econômica

Publicado em setembro, o Decreto de Baixo Risco, além de regulamentar a Lei Estadual de Liberdade Econômica, passa a dispensar de ato público 771 atividades econômicas classificadas como Baixo Risco.

Por Rayssa Tomquelski

No cenário do empreendedorismo paranaense, começa uma nova etapa com a implementação do Decreto Estadual de Baixo Risco (Nº3434/2023), uma iniciativa do Governo do Estado do Paraná, que promete impulsionar e desburocratizar o ambiente de negócios no estado. O Paraná, conhecido por sua grande infraestrutura e mão de obra qualificada, torna-se ainda mais atraente para investidores e empreendedores, estimulando a inovação e o crescimento econômico. A notória diversidade do mercado paranaense, com startups tecnológicas, pequenas empresas familiares e empreendimentos sociais, corrobora para que o Estado torne-se atrativo.

Atualmente é o primeiro Estado do sul do Brasil no que diz respeito ao tempo de abertura de empresas, e o 5º colocado no País, com apenas 13 horas e 8 minutos. Além disso, nos dez primeiros meses deste ano, o Paraná abriu 241.594 mil novas empresas, o que, de acordo com o governo, representa um aumento de 3,4% em relação ao mesmo período de 2022.

Empreendedorismo no Brasil

O brasileiro é reconhecido por sua criatividade e capacidade de fazer dinheiro em cima de soluções para os problemas do dia a dia, afinal, isso é empreender. Hoje, além das grandes empresas, o país é composto em sua maioria pelos microempreendimentos. No Paraná, 74.7% dos novos Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) são de microempresas.

Um grande fator que colaborou para o crescimento do campo empresarial foi a pandemia, em que as pessoas tiveram que se adaptar a uma nova realidade e, com o desemprego, precisaram buscar novas fontes de renda. “Eu comecei na pandemia, porque fiquei desempregada e precisava ter uma fonte de renda. Vi a necessidade de fazer alguma coisa e não esperar. Tinha um pouco de medo de demorar para voltar a funcionar as coisas e continuar desempregada. Então, foi aí que eu comecei a empreender, a trabalhar com os bolos caseiros”, relata Cintia Chagas, proprietária dos “Bolos da Cindy”.

Nas fotos, a microempreendedora Cintia Chagas. A primeira é da sua produção em casa. E a segunda imagem é com a exposição dos seus produtos em evento. Foto: Instagram Bolos Caseiros da Cindy (@cintia.f.chagas)

Para os empreendedores, regularizar a sua empresa vai muito além de alcançar um cartão CNPJ, obter licenças e outros trâmites burocráticos. Regularizar a empresa significa que o empreendedor está saindo da informalidade e visando o crescimento do seu negócio. ”Uma das coisas que me fez sentir a necessidade de abrir a empresa, ter um MEI, é para demonstrar que é um negócio sério, não é só o ‘bolinho’, como muitas das vezes falavam. É o meu negócio”, ressalta a empreendedora.

Lei de Liberdade Econômica

Em 2019 o Governo Federal criou a Lei de Liberdade Econômica visando simplificar, facilitar e estimular o empreendedorismo no Brasil. Pensando nisso, um dos itens previstos na Lei 13.874/19 seria a aplicação do mínimo de restrições necessárias, como por exemplo: a dispensa dos atos públicos de liberação para as atividades classificadas como de Baixo Risco.

Para que a Lei esteja em vigor nos estados, é necessário que ocorra a regulamentação, esse processo parte da premissa que todos os estados estejam alinhados com o que foi estabelecido pela legislação federal. Nos casos em que o município não tem uma regulamentação, deve seguir a regulamentação do Estado e se – não houver, a regulamentação federal deve ser adotada.

A Lei de Liberdade Econômica foi regulamentada no Paraná por meio do Decreto de Baixo Risco. Esse decreto é uma ação do Descomplica Paraná, coordenado pelo Comitê de Desburocratização do Estado do Paraná, liderado pela Casa Civil do governo e presidido pelo chefe do Centro Estadual de Desburocratização do Estado, o coronel Jean Rafael Puchetti Ferreira.

Baixo Risco

Com o objetivo de facilitar e simplificar a abertura de novos CNPJs, o decreto paranaense dispensa, para empresas com Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAES) classificados como Baixo Risco, as licenças emitidas no Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária, Instituto Água e Terra e Agência de Defesa Agropecuária.

Atualmente, conforme o ranking divulgado pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), o Paraná é o segundo do país em atividades de Baixo Risco dispensadas de licenças, com 771 CNAEs. O primeiro lugar é ocupado pelo Piauí, com 858 atividades.

A análise da dispensa, acontece após o preenchimento de um formulário no site Empresa Fácil. No portal, o empreendedor vai abrir sua empresa do zero e responder algumas perguntas sobre o seu comércio e o tipo de empreendimento que pretende abrir. O sistema, já alinhado com o que cada órgão considera ser de Baixo Risco, vai emitir um selo final, se o CNAE da empresa se enquadrar nos requisitos estabelecidos pelos quatro órgãos licenciadores do Estado de forma simultânea. ”O requerente receberá no final do preenchimento das informações, o selo que informa que trata-se de atividade econômica de Baixo Risco e portanto dispensa de alvará para funcionamento”, explica Puchetti.

Em caso de negativa, o sistema não emite nenhuma licença e não diz em qual ponto foi reprovado, apenas orienta buscar os órgãos licenciadores e seguir a orientação pertinente daquele órgão.

Lançamento do Decreto de Baixo Risco em 14 de setembro de 2023, durante a Feira do Empreendedor, promovida pelo SEBRAE. Foto: Jonas Oliveira/SEIC

Atividades consideradas de Baixo Risco

De acordo com o decreto, as atividades vão de cultivo, fabricação de aparelhos (de som, áudio, foto e vídeo), fabricação de bebidas (chá, vinhos, cervejas e chopes) e etc. “São 771 CNAEs incluídos no decreto. Mas não basta ele fazer parte daquela relação. Tem que preencher critérios. Que a gente chama de condicionantes”, conta Puchetti.

As condicionantes seriam basicamente critérios que devem ser preenchidos para que aquela atividade seja de Baixo Risco. Por exemplo, o Decreto inclui fabricação de vinho como uma dessas atividades, mas possui 5 condicionantes, sendo elas:

  1. Desde que a atividade econômica seja classificada como exclusivamente artesanal.
  2. Desde que não haja a geração de Resíduos Sólidos Classe I – Perigosos, conforme normas técnicas vigentes, no processo industrial.
  3. Desde que o empreendimento (unidade produtiva) esteja localizado em área dotada de sistema público de esgotamento sanitário e que possua até 10 funcionários.
  4. Desde que haja sistema de aquecimento exclusivamente elétrico ou a gás.
  5. Desde que haja geração de efluentes líquidos industriais com vazão até 1.000 litros por dia.

É importante ressaltar que existe uma responsabilidade por parte do empreendedor em cima daquilo que está sendo respondido, pois trata-se de um processo autodeclaratório. Apesar de ser dispensado do ato público e fazer todo o processo de forma online, a qualquer momento o estabelecimento pode ter a fiscalização dos órgãos licenciadores. “O sistema trabalha com o juízo e boa fé. Entende-se que o que está sendo declarado é verdadeiro. Porém todos estão sujeitos à fiscalização a qualquer momento e as sanções cabíveis no caso de falsas declarações”, complementa o presidente do Comitê.

“Se o requerente, durante o processo de abertura da empresa, declara que o escritório que pretende abrir possui 40m² e que trabalharão no local trabalham 10 pessoas, em tese, respondendo às demais perguntas, ele se enquadrou no Baixo Risco, recebendo o selo de forma automática. Posteriormente, esse mesmo requerente recebe uma fiscalização dos órgãos licenciadores que constatam que o local possui 80m², será aplicada uma ação orientativa e a perda do selo de dispensa”, explica Puchetti a respeito do processo de fiscalização.

A partir de 31 de dezembro deste ano, entra em vigor o decreto estadual. No caso de municípios que não possuam legislação própria, eles serão automaticamente regidos pela legislação estadual. Apenas 20 cidades paranaenses têm regulamentações específicas e precisarão determinar qual delas adotarão.

A relevância e o necessário incentivo dos esportes na vida acadêmica dos estudantes universitários

Por: Maria Carolina Andrade Hopp e Maria Fernanda Nogueira da Silva

No ambiente acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a junção entre estudos e esportes desempenha um papel importante na vida daqueles que encontram nas atividades esportivas um local para desenvolvimento. Por meio da Associação Acadêmica Atlética de Design, Comunicação e Letras (AAADEC), a reportagem explora as vivências de estudantes engajados em uma prática que vai além das salas de aula, chegando nas quadras esportivas, moldando não apenas corpos, mas também construindo laços sociais e cultivando habilidades essenciais para o crescimento pessoal de cada aluno e atleta.

No Brasil, onde a paixão pelo futebol e pelos esportes em geral está enraizada, é observado um aumento considerável de jovens universitários que não só investem tempo nos estudos, mas que também participam ativamente das atividades esportivas oferecidas em suas universidades. Contudo, quando o olhar vai além das fronteiras nacionais, surge uma instigante indagação: de que maneira o cenário esportivo universitário brasileiro se equipara ao internacional?

Panorama nacional: desafios e triunfos nos esportes universitários

Para realizar uma comparação com outros países é necessário antes entender a realidade dos esportes acadêmicos no Brasil. Por meio de um formulário voluntário, foram colhidas respostas que revelam uma perspectiva dinâmica de engajamento esportivo. Dos participantes, 86,7% já praticavam algum esporte antes de ingressar na UTFPR, indicando uma afinidade preexistente e que permaneceu no ambiente universitário. Tendo em vista esse cenário, a AAADEC desempenha um papel crucial como entidade por dar chances dessas pessoas continuarem praticando – e até mesmo de outras pessoas iniciarem nos esportes – oferecendo treinos e oportunidades que atraem a maioria dos estudantes entrevistados.

Os relatos pessoais mostram diferentes motivos pelos quais os estudantes optaram por incorporar o esporte às suas vidas acadêmicas. A atleta de basquete Sabrina Carvalho relata que buscou superar desafios pessoais: “Voltei a ter crises de ansiedade e fobia social, o esporte sempre foi uma forma de acalmar meu corpo e me ajudar a interagir com pessoas então pareceu uma boa ideia superar a timidez e voltar a fazer algo”. Já o estudante de Comunicação Organizacional Rodrigo da Silva foi motivado a criar relações dentro da universidade: “Foi importante para que eu pudesse socializar, conheci pessoas de diversos cursos e pessoas que viraram meus amigos”, conta ele. Com isso, os estudantes encontram nos esportes uma válvula de escape, que vai além do simples exercício físico.

A socialização surge como um fio condutor crucial e a AAADEC desempenha o papel de facilitar que esses universitários tenham acesso aos esportes e às relações que procuram, além dos estudos. Dessa forma, o esporte não se limita a ser apenas um componente extracurricular, mas se torna um integrante dinâmico da experiência acadêmica, enriquecendo-a com diversidade, amizades duradouras e um profundo senso de pertencimento. “A maioria dos meus amigos que fiz foi não pela sala de aula e sim em quadra”, relata a aluna Camila Beatriz, atleta de basquete, handball e futsal.

Comemoração de ponto da vitória em jogo de vôlei durante Torneio Universitário De Comunicação e Artes (TUCA Foto: Giulia Batista

Comparando além das fronteiras: o contexto internacional dos esportes universitários

Ao analisar a fundo o envolvimento esportivo na UTFPR, é inevitável expandir o olhar para além das fronteiras nacionais. Em países como os Estados Unidos, os esportes universitários representam uma indústria, na qual os atletas alcançam status de celebridades e as competições interuniversitárias atraem multidões. Além disso, lá os jovens conseguem bolsas escolares para entrar nas universidades e representá-las nos jogos, dando oportunidade para muitos cursarem o ensino superior com apoio financeiro.

As diferenças culturais nas abordagens aos esportes universitários também são evidentes. Enquanto no Brasil a paixão esportiva muitas vezes emerge de forma orgânica, em outros países ela é algo imposto exatamente por conta desses apoios financeiros, que para muitos é a única forma de ingressar no curso superior. Entretanto, há uma coisa em comum em todos os países: a capacidade que o esporte tem de promover a interação social oferecendo espaço para o crescimento pessoal.

Uma jornada pela experiência dos estudantes da UTFPR 

À medida que se explora essa dualidade entre o local e o global nos esportes universitários, é válido mergulhar nas experiências individualizadas dos estudantes da UTFPR. Suas narrativas não apenas mostram o cenário esportivo universitário brasileiro, mas também proporcionam um ponto de partida para reflexões sobre o que há por trás da prática esportiva.

Nas universidades brasileiras, a paixão esportiva transcende os gramados e quadras das grandes competições nacionais. E o mesmo acontece no cenário paranaense. Dois exemplos próximos são os Jogos Interatléticas de Curitiba (JOIA) e o Torneio Universitário de Comunicação e Artes (TUCA), ambos organizados por atléticas estudantis que buscam manter vivo o espírito esportivo e, além disso, proporcionar espaços e experiências de interação entre pessoas de diferentes cursos e faculdades.

Ao examinar o cenário paranaense, revelam-se desafios e avanços no esporte universitário, considerando investimentos e a visão dos órgãos públicos. É observado também a falta de estrutura em muitos ginásios esportivos, um exemplo dessa falta de suporte ocorreu no TUCA, onde os próprios alunos precisaram pintar as demarcações da quadra da cidade para jogarem basquete, como relata o estudante de Comunicação Eric Steffan. O que é o oposto do que acontece nos Estados Unidos, onde as organizações prezam por grandes investimentos nessa área. 

O maior investimento por parte das universidades estadunidenses é feito por meio de bolsas de estudos concedidas aos atletas que defendem o brasão das instituições mais conceituadas e desejadas do mundo. Os atletas são livres para realizar publicidades e oferecer aulas particulares, já que o esporte universitário é um desejo de muitos adolescentes estadunidenses. Além disso, as universidades norte americanas investem boa parte do orçamento em construção de quadras e espaços esportivos, oferecendo a melhor estrutura e manutenção para os alunos.

Investimentos da AAADEC nos esportes

Enquanto em outros países, as universidades e o governo estão profundamente engajados nos investimentos em esportes, aqui o que se observa são os alunos buscando ativamente formas de investimento por conta própria, destacando a necessidade de um maior suporte e estrutura para fomentar o desenvolvimento esportivo.

Assim surgiram as atléticas, que foram criadas para proporcionar os esportes de forma acessível para os estudantes, e por isso seu objetivo é promover o que for necessário para que os alunos tenham essas oportunidades. E estas são, primeiramente, os treinos semanais e também a inscrição em campeonatos, para que os atletas ponham em prática o que estão aprendendo e tenham a chance de ver seus desempenhos e de interagir com outras atléticas e outros times.

A AAADEC promove festas, eventos e venda de produtos para arrecadar o dinheiro que será investido no esporte. E a atlética não economiza quando o assunto é fornecer oportunidade para os atletas. Somente nos primeiros quatro meses da gestão atual, já foram gastos cerca de 8 mil reais, segundo informações dadas pela direção da atlética. Esse dinheiro foi gasto em inscrição de campeonatos como o JOIA, no qual a AAADEC ficou em sétimo lugar – um ótimo desempenho, visto que foi a primeira vez na competição. E a Liga das Atléticas BSS, campeonato de basquete na série prata, na qual foram campeões. 

Liga das Atléticas BSS Série Prata – campeonato masculino de basquete@fotografiaotaviozg

Os campeonatos organizados pelas atléticas constituem a maioria das competições no Paraná, proporcionando calendário esportivo para os estudantes. Diversos torneios, como Engenharíadas Paranaense, Jogos Jurídicos, Intermed Paraná, TUCA, entre outros, concentram-se em reunir alunos de cursos semelhantes para disputar diversas modalidades, moldando o cenário esportivo local.

Adicionalmente, o JOIA, campeonato organizado pela Liga das Atléticas da Capita,l em Curitiba, e outros campeonatos menores liderados por atléticas de forma independente, contribuem para a dinâmica esportiva local. Além disso, esses eventos esportivos têm a capacidade de promover experiências marcantes na vida universitária, como revela a estudante Camila Beatriz, de Design, quando perguntada sobre um momento especial que o esporte universitário lhe proporcionou: “Foi quando viajei com a AAADEC para o TUCA e fomos campeões”.

Essa narrativa ressoa entre muitos estudantes-atletas, indicando que, longe de ser um fator de distração, a prática esportiva surge como um auxílio para melhorar a experiência da vida acadêmica. 

Atletismo no JOIA Curitiba 2023 @fotografiaotaviozg

O Jogo Equilibrado dos estudantes-atletas na UTFPR

Os estudantes-atletas da UTFPR encaram um desafio duplo: manter um bom desempenho acadêmico enquanto aprimoram suas técnicas em quadra. As respostas do formulário mostram a permanência dos estudantes no esporte ao longo das suas trajetórias dentro da universidade. Ou seja, aqueles que iniciaram as práticas esportivas entre o primeiro e segundo período, continuam praticando esportes ainda no quinto e sexto semestre. Isso demonstra que os estudantes estão conscientes da importância de estabelecer uma base sólida nas atividades esportivas desde o início de sua jornada acadêmica, e os benefícios que estas atividades agregam.

Relatos como o da estudante de design Natália Figueiredo, atleta de futsal e handball, oferecem insights valiosos sobre praticar esportes durante a vida acadêmica: “Experiências como essa fazem a faculdade ficar mais leve, você se sente mais presente no mundo e não apenas no automático, assistindo as aulas e esperando seu diploma.”.

Jogo da final de futsal Feminino no TUCA 2023 foto: Giulia Batista

Além dos limites acadêmicos

A prática esportiva não se limita às quadras e campos; ela se estende aos tecidos sociais e emocionais dos estudantes-atletas. Nas entrevistas, encontram-se relatos de como o esporte atua como um facilitador poderoso da socialização e integração. “O esporte foi meu alívio do estresse acadêmico”, compartilha a estudante Bianca Roth de Design, jogadora de vôlei. “Além de que conheci muitas pessoas incríveis durante os treinos. Acho que o esporte ajuda muito em tudo, mas principalmente a superar o medo e também a você desestressar, principalmente na vida universitária.” 

Foto de comemoração da vitória no futsal feminino no TUCA 2023 foto: Giulia Batista

Essa dimensão social da prática esportiva é evidente em muitos testemunhos, onde os times e as atléticas se transformam em famílias, oferecendo não apenas apoio esportivo, mas também uma rede emocional durante os desafios acadêmicos.

Dentro da comunidade de estudantes-atletas, surgem histórias inspiradoras de sucesso. O aluno de Comunicação Organizacional, Rafael Bayer, que pratica basquete e futsal, compartilha que “a partir dos treinos da atlética, me tornei treinador um tempo depois, então hoje a atividade integra minha vida semanalmente”. Essa perspectiva mostra que, além de auxiliar a vivência universitária, o esporte pode passar a ser também uma profissão.

Outra fala importante vem do aluno de Design Matheus Emanuel, que incentiva outros alunos a não desistir. “Tudo é uma questão do quanto você quer ficar bom naquilo e quando você vê a evolução acontecendo, mesmo que em pequenos atos é algo muito gratificante. Nas pequenas vitórias você vai percebendo o quanto pode melhorar e atingir um potencial incrível”, diz ele. Esse é um exemplo que mostra que o esporte não é fácil, mas que é um esforço que vale a pena. Tal como o relato da aluna de Comunicação Organizacional Sabrina Carvalho, que comenta: “É bem divertido fazer uma atividade física e ainda soltar umas risadas com as pessoas que estão juntas.” Esses exemplos reforçam a ideia de que o esporte não é apenas uma atividade extracurricular, mas um pilar fundamental no processo de formação dos estudantes.

Fica evidenciada a relevância e o necessário incentivo dos esportes na vida acadêmica dos estudantes universitários e os impactos que essa ação tem para os jovens atletas. E, por isso, a Associação Acadêmica Atlética de Design, Comunicação e Letras (AAADEC) desempenha um papel crucial ao proporcionar oportunidades para os estudantes se envolverem em atividades esportivas, indo além do ambiente das salas de aula.

A socialização surge como fator principal para muitos alunos, ao buscarem nos esportes mais do que benefícios para a saúde mental e física, servindo como uma válvula de escape para desafios pessoais. A AAADEC, por meio de investimentos e esforços, promove eventos esportivos, competições e oportunidades de treino, enriquecendo a experiência acadêmica dos estudantes.

O esporte não é apenas uma atividade extracurricular, mas algo fundamental no processo de formação dos estudantes, oferecendo benefícios que vão além do desempenho acadêmico, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e social dos universitários. “Viva o esporte, mas não esqueça que você está ali por você. O esporte é importante, mas a saúde física e mental deve estar em primeiro lugar”, completa Rodrigo da Silva.

Costurando sustentabilidade: o impacto positivo da parceria entre a Borda Viva e o Instituto Renault

Por: João Pereira e Kauani Colpani

Dar uma nova vida para as coisas que comumente são consideradas lixo tem sido o assunto do momento. No upcyclin – que é o processo em que materiais que seriam descartados são recuperados e convertidos (o máximo possível ainda em sua forma original) em um produto de maior valor e maior qualidade – os itens não são simplesmente desmontados ou triturados, mas sim reaproveitados de uma forma que transforma quase que completamente a utilidade ou estética. 

Alguns exemplos bastante populares são transformar paletes de madeira em móveis, usar garrafas de vidro para criar luminárias ou roupas antigas em novas peças de moda. Ou, como faz a Associação Borda Viva em sua Casa da Costura: reinventar os tecidos automotivos que seriam descartados em acessórios como mochilas, bolsas e necessaires.

A Associação Borda Viva é um exemplo de Organização da Sociedade Civil (OSC) que faz esse trabalho de reciclagem. Desde 2010, auxilia na geração de renda de mulheres com a Casa da Costura, projeto pensado por Rosali de Fátima Oliveira Santos (55), que vive no bairro Borda do Campo, em São José dos Pinhais — daí o nome Borda Viva. Ela é a presidente e idealizadora da Associação, que já beneficiou mais de 60 mil pessoas com a Cozinha Solidária, que fornece mais de 20 mil refeições por ano, e a já mencionada Casa da Costura, que tem conquistado seu espaço por meio das produções realizadas. 

Arquivo Associação Borda Viva/Foto: Rodolfo Buhrer

O projeto utiliza as aparas de várias fábricas parceiras, principalmente da indústria automobilística. Os tecidos que sobram da produção de bancos e cintos de segurança são reimaginados pelas costureiras e se tornam produtos comercializáveis que geram renda.

Isso tem transformado a vida de mulheres como a da Fátima Alves (33), que mora no bairro e faz parte do time Borda Viva como costureira: “Fazer parte da Casa da Costura na Associação Borda Viva mudou completamente minha vida. Além de aprender a costurar, essa iniciativa transformou minha realidade financeira e trouxe uma nova perspectiva ambiental para a comunidade. A costura não é apenas uma atividade, é uma forma de expressão criativa que impacta positivamente as vidas ao meu redor. A Borda Viva é um ponto de referência que gera renda, colaboração e conscientização sustentável na comunidade.”

Arquivo Associação Borda Viva/Foto: Rodolfo Buhrer

Aspectos geográficos do Borda do Campo

O  bairro Borda do Campo, situado em São José dos Pinhais, tem uma sólida base na história industrial e abriga uma comunidade bastante diversa, com mais de 18 mil habitantes (IBGE, 2010) – dado já desatualizado e ainda não recalculado com base no censo de 2022. O contexto ambiental da região desempenha um papel fundamental, influenciando diversas iniciativas e moldando a identidade única da área.

No âmbito da educação, ainda tendo base nos dados do Censo de 2010, a maior parte da população (61,8%) não completou o ensino fundamental ou tem pouquíssima instrução formal. O outro extremo, constituído por habitantes locais com grau de ensino superior (graduação), é de apenas 2,9%. A baixa escolaridade está ligada às raízes do bairro: incubador da indústria com poucos recursos destinados ao desenvolvimento social.

Fonte: Google Maps

Contexto ambiental na região 

O Borda do Campo foi inicialmente projetado como distrito industrial, tornando-se, posteriormente, o local de moradia de muitos funcionários das empresas e transportadoras que se localizam no território (Nissan, Renault, Volvo, Transmoreno, entre outras), motivo este que precarizou o acesso a boas condições de saneamento, educação e, principalmente, às questões ambientais. 

Atualmente as empresas localizadas na região possuem regras e regulamentações que impedem a utilização de recursos ambientais desenfreadamente. A Renault do Brasil, por exemplo, preserva cerca de 1,5 milhão de metros quadrados de área ambiental (Imprensa Renault, 2015) e realiza anualmente o Relatório de Sustentabilidade. Já a Volvo, por outro lado, possui uma política de meio ambiente que prioriza o gerenciamento do impacto ambiental dos produtos em todo o seu ciclo de vida, do processo de conceituação ao de descarte (Volvo Group, 2012).

A atuação da Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais se dá, majoritariamente, na fiscalização por meio da Secretaria do Meio Ambiente e nas políticas públicas que são implantadas no bairro para preservação de áreas verdes, conscientização da população, plantio de árvores e mutirões de limpeza. 

Em abril deste ano, foi realizado um convênio entre o Governo do Estado e a Volkswagen do Brasil, que beneficiará diretamente o município em investimentos sociais. O aporte total é de R$8 milhões, destinado para três iniciativas, sendo uma de empreendedorismo sustentável e outra de qualificação profissional (Prefeitura de São José dos Pinhais, 2023).

Economia local e preservação

No âmbito econômico, a interdependência entre desenvolvimento e preservação é essencial. A economia local frequentemente depende de setores específicos, como a indústria, e a preservação de recursos naturais desempenha um papel vital na sustentabilidade a longo prazo. Iniciativas locais que abraçam práticas sustentáveis contribuem não apenas para a geração de renda, mas também para a preservação dos recursos naturais essenciais à comunidade ao dar um novo destino aos itens que seriam descartados. Explorar essa relação entre ambos proporciona uma visão abrangente do desenvolvimento sustentável no Borda do Campo.

A população do bairro busca, no entanto, por condições básicas e dignas. A pauta da preservação fica em segundo plano, cabendo um maior desafio para a Associação em conquistar o seu espaço. As principais demandas dos moradores envolvem transporte público que atenda toda a região, vagas para as crianças na educação infantil, melhor atendimento das Unidades Básicas de Saúde e maior segurança (“Fala, Cidadão”, setembro de 2023), e não reciclagem ou reutilização de recursos que seriam descartados. Esses são deveres que, a longo prazo, precisam ser realocados socialmente. 

São José dos Pinhais, PR – 27.10.2020: Fachada da Associação dos Moradores da Borda do Campo – AMARB com as obras concluídas com investimento social do Instituto Renault. Foto: Rodolfo Buhrer / La Imagem

O pensamento verde está sendo pautado pelas grandes corporações, o que pode ser visto nas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), preocupação recente das organizações com os aspectos ambientais e sociais das comunidades com as quais se comunicam. A sustentabilidade tem ganhado cada vez mais espaço na indústria, frente às obrigações legais. O ponto é que: seja essa de fato uma preocupação legítima dos grandes nomes no setor automobilístico como a Renault e a Volvo ou um meneio para não sofrer sanções, essas ações voltadas ao socioambiental têm levado mudanças autênticas e relevantes para a população do Borda do Campo por meio de organizações da sociedade civil como a Associação Borda Viva.

Upcycling

Em um mundo onde a sustentabilidade se tornou uma palavra de ordem, o upcycling emerge como uma prática inovadora e criativa para dar nova vida aos objetos descartados. Diferentemente da reciclagem convencional, que muitas vezes envolve a quebra de materiais para criar novos, o upcycling é um processo que vai além. Nele, os itens não são simplesmente desmontados ou triturados; ao contrário, são reinventados de uma forma que transforma quase que completamente sua utilidade ou estética.

Produtos vendidos pelas costureiras da Associação Borda Viva

A Associação Borda Viva, imersa nesse movimento de renovação e criatividade, abraça o upcycling como uma peça-chave em seus projetos. A prática irrompe o pensamento de simplesmente reduzir resíduos, tornando-se uma expressão de criatividade sustentável na comunidade local. A transformação de aparas de tecido automotivo em acessórios como mochilas, bolsas e necessaires não somente ressignifica os materiais, mas também agrega valor estético e funcional a cada peça produzida.

Ao adotar o upcycling, a Associação Borda Viva não só contribui para a redução de resíduos, mas também estimula a economia circular. Nesse modelo, os resíduos são vistos como recursos valiosos que podem ser reintegrados na cadeia produtiva, minimizando o impacto ambiental e promovendo um ciclo sustentável.

A prática do upcycling na Casa da Costura da Associação Borda Viva, além de uma abordagem ambientalmente consciente, é também uma fonte de inovação sustentável. Ao reimaginar o destino dos resíduos automotivos, a associação cria produtos únicos e inspira a busca por soluções eco-friendly. Essa abordagem não só beneficia o meio ambiente, mas também impulsiona o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias que promovem a harmonia entre a produção e a preservação.

É a prática do upcycling que estimula mulheres na iniciação da costura. Além disso, as bolsas começaram a ser exportadas para a França em 2019, provando a consistência da utilização  das sobras da indústria que seriam descartadas como resíduos e agora são aproveitadas de maneira sustentável. “A Associação capacita mulheres na costura e encaminha para empresas que trabalham com isso”, comenta Rose, presidente da Associação Borda Viva.

Rosali, presidente da Associação Borda Viva/Foto: Rodolfo Buhrer

Mulheres e política: um processo contínuo de construção

Nos dias de hoje, o número de mulheres representantes políticas ainda é baixo.

Por: Giovanna Graçano e Leticia Floriani

Desde o início da República, em 1889, o país teve uma única presidente, Dilma Rousseff, e apenas 16 governadoras mulheres. Dessas, apenas oito foram eleitas para o cargo, as demais eram vice-governadoras que ocuparam o posto com a saída do titular. Nessa perspectiva, o número de mulheres que estão envolvidas na política, não só como candidatas, mas também como ativistas e defensoras, é baixo e pouco significativo, ainda que as mulheres representam a maior parte da população brasileira e da porcentagem do eleitorado. 

Segundo dados apresentados pelo TSE Mulheres, órgão que reúne uma visão geral sobre a atuação das mulheres na política e nas eleições ao longo da história do Brasil, é possível saber, por exemplo, que, entre 2016 e 2022, o Brasil teve, em média, 52% do eleitorado constituído por mulheres, 33% de candidaturas femininas e 15% foram eleitas.

O machismo estrutural é um fator importante para que seja possível analisar  a falta de diversidade dos gêneros entre os cargos e, nesse sentido, essa falta de representatividade diminui a pluralidade do debate no parlamento. Um aspecto que deve ser considerado dentro dessa perspectiva é o de que a relutância de muitas mulheres em seguir carreira política ou participar ativamente na esfera política, advém da observação de que esse ambiente é predominantemente masculino, o que acaba por desestimular o envolvimento.

As mulheres nas eleições

As eleições de 2022 se destacaram bastante pela rivalidade e disputa entre dois lados que foram evidenciados durante todo o processo eleitoral, a direita e a esquerda. Sendo a eleição considerada pela sociedade como um todo como histórica, ela teve um destaque importante e significativo para as mulheres na política em ambos os lados. Foram 302 mulheres eleitas, das 9.794 candidaturas femininas, o número ainda é significativamente baixo, mesmo que represente um aumento comparado às eleições passadas. 

Mira Graçano (Republicanos) foi uma das candidatas sem sucesso nas eleições. Ela é ex-jornalista no estado do Paraná e não tinha se envolvido diretamente no meio político até sua primeira candidatura, mesmo que já trabalhasse há aproximadamente três anos na Secretaria de Desenvolvimento do Governo Paranaense. Para ela existiu uma dificuldade em se ver envolvida nesse projeto com tão pouca representatividade: “A gente duvida se está realmente seguindo o caminho certo, as pessoas questionam nossa decisão e sempre nos fazem questionar sobre nossas conquistas, é difícil ver um apoio vindo do lado masculino da população”, diz.

Mira em encontro com eleitoras
Imagem 2 – Fonte: Instagram Mira Graçano

Em contrapartida, Carol Dartora (PT), ex-vereadora curitibana que foi candidata a deputada federal, é um exemplo de sucesso. Ela foi eleita defendendo lutas como a participação feminina na política, mulheres pretas alcançando espaços públicos, igualdade de gênero e dentre outros discursos socialmente importantes e significativos. 

Outra candidatura – e exemplo de atuação feminina importante para ser destacada- é da atual vereadora Professora Josete (PT), candidata não eleita a deputada estadual. Atualmente em seu quinto mandato na Câmara Municipal de Curitiba, ela  defende a educação como princípio básico social, além da igualdade de gênero na política e na sociedade. Em uma discussão sobre um projeto de lei que institui a campanha de combate ao machismo e a violência contra a mulher, a vereadora discorreu sobre o significado do que é feminismo: “O feminismo prega a igualdade entre homens e mulheres. Diferente das concepções desvirtuadas, as mulheres não querem ocupar o lugar dos homens, mas sim o seu lugar. Por exemplo na Câmara de Vereadores, são 38 cadeiras e hoje nós temos 30 vereadores e oito vereadoras, isso porque a sociedade é machista e patriarcal e dentro dessa sociedade os homens querem que as mulheres sejam submissas e não que elas construam a sua autonomia”, pontua a vereadora em seu discurso. 

De acordo com a pesquisa “A participação da mulher na política brasileira: obstáculos e desafios”, desenvolvida pelo mestre e analista do judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, Junior Xavier Fonseca e pelo professor de Direito Constitucional na Universidade Estadual de Londrina, Zulmar Antonio Fachin, um dos fatores que afeta a inclusão da mulher na política com mais efetividade, além da sua dupla jornada de trabalho e da desigualdade salarial, são “as oclusões dos partidos políticos em prejuízo da mulher: nesse sentido vemos que os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado e como tal possuem uma estrutura organizada na busca do ‘poder’.” A partir daí, é possível entender que existe uma entrega das mulheres que participam dentro do partido, mas em contrapartida essa atividade não é recíproca e mútua, já que na busca pelo poder de liderança, de espaço e de capital financeiro frente à sociedade, uma candidatura masculina no Brasil rende mais. 

As leis brasileiras

A Legislação brasileira exige que os partidos políticos apresentem chapas de candidaturas ao Legislativo com pelo menos 30% de mulheres candidatas. Ao longo das décadas, foram implementadas outras políticas afirmativas adicionais, porém insuficientes para combater de forma efetiva a discriminação estrutural contra as mulheres na sociedade e nas instituições. “Entrei como candidata para fechar a cota necessária de mulheres no partido, foi realmente uma das fases mais conturbadas e difíceis da minha vida. A política, como um todo, te consome emocionalmente e ser uma mulher nesse meio é ainda mais desgastante pela discriminação e falta de reconhecimento”, relata a ex-candidata Mira Graçano. 

A discriminação e falta de reconhecimento citada pela ex-candidata a deputada é exemplificada nas eleições de 2020, em São Paulo, nas quais, de acordo com Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, mais de 200  candidatos a vereadores em cidades paulistas tiveram o mandato ou diploma cassados pela Justiça Eleitoral por tentarem fraudar a cota de gênero. A Justiça alega que não só é necessário completar essa porcentagem de candidaturas, como tornar viável a participação ativa dessas mulheres nas campanhas.

As eleitoras ativas na política

De acordo com dados divulgados pelo TSE Mulheres, 53% do eleitorado é feminino, ou seja, são 82.373.164 mulheres que participam de forma ativa nas eleições brasileiras. Dentre esses números, mesclam-se aquelas que participam de uma forma expressiva e aqueles que apenas cumprem seus direitos e papel social neste período do ano, depositando votos nas urnas. 

Sarah Elisa dos Santos é formada em jornalismo e estudante de pós-graduação em comunicação social e políticas públicas. Ela é, representativamente, um exemplo de mulher que não só vota, mas também defende, debate, participa e discursa sobre a política e a participação feminina nesse meio: “Nós precisamos nos fazer cada vez mais presentes, estar nos comícios, debater entre roda de amigos e defender nossa perspectiva e opinião. Por muitos anos não tivemos nem mesmo direito ao voto, agora que podemos exercer e participar socialmente precisamos estar e fazer pelo nosso país. Nós somos a maior  arma de defesa pelos nossos próprios direitos, se nós mulheres não lutarmos juntas, os homens é que não lutarão por nós”, diz.

Como um todo, portanto, a partir das pontuações feitas pela ex-candidata Mira Graçano e pela ativista política Sarah Elisa dos Santos, além do repertório de pesquisa acerca da temática de mulheres na política, fica claro a importância da sociedade entender sobre a participação feminina na política, não é um caso separado, anos após a conquista pelo direito de votar e pelo direito de participar do ambiente político e governamental, a representatividade avança vagarosamente, por isso a necessidade de discutir sobre o assunto.

Projeto da UTFPR  reestreia peça teatral conceitual com entrada franca

Por Alexandre Terplak.

O espetáculo Amparo, custeado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), está em cartaz do dia 14 ao dia 18 de novembro às 19h30, após aproximadamente um ano de hiato.

Amparo é uma apresentação cênica que se torna palpável através da interação entre espaço, tempo e rítmica, com uma cenografia montada para que os atores interajam com as plataformas que os comportam, performando movimentos expressivos que fluem através da trilha sonora (trilha esta composta especificamente para a peça em questão). O jogo de luzes durante o espetáculo ambientaliza e reforça as características de cada ato, tornando a ausência de diálogos algo dispensável para a compreensão da temática e do contexto que, por mais que haja nela um embasamento teórico em conceitos chave para a trama, tem como objetivo a subjetividade do espectador sobre a obra. Em Amparo, os ambientes cenográficos possibilitam que os artistas explorem as dimensionalidades de pequenos espaços sem que toquem o solo. Esta particularidade é o gancho para a principal referência relativa à criação da peça.

Representação do psicológico em contexto pandêmico

No dia 26 de fevereiro de 2020 foi registrado o primeiro paciente diagnosticado com COVID-19 no Brasil. Este foi só o começo de uma longa jornada que a humanidade enfrentaria ao se deparar com uma pandemia devastadora que teve diferentes repercussões ao redor do globo. No Brasil, com uma administração pública que ia contra as recomendações gerais visando a atenuação da crise causada pelo vírus (como por exemplo o isolamento social, uso de máscaras e a conscientização da população diante da gravidade da situação), o impacto da crise foi alarmante para a saúde do povo brasileiro, que sofreu o luto de aproximadamente 700 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde e a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (ATASUS). 

Porém, mesmo o número de óbitos citado sendo o resultado mais visível em torno da crise sanitária brasileira, o psicológico da população foi afetado negativamente com a proliferação do vírus no país. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou que, em outubro de 2020, 80% da população brasileira declarava que se sentia mais ansiosa, com boa parte dos entrevistados alegando sintomas depressivos, alteração no humor e no sono. Outra pesquisa, feita pelo Instituto Ipsos sob encomenda do Fórum Econômico Mundial, mostra que o Brasil era o país que ocupava a quinta maior porcentagem daqueles que diziam se sentir mentalmente piores durante o ano de 2020, ficando atrás somente da Itália, Hungria, Chile e Turquia. 

Os dados citados reforçam a fala do diretor de Amparo, Ismael Scheffler, sobre uma das inspirações para a peça: “[…] Nós queríamos trabalhar com essa metáfora de perder o chão, essa ideia de espaços restritos distantes do solo”. As cenas isoladas, personagens lidando face-a-face com sua psique e atores que integram um recorte populacional afetado diretamente pela pandemia, fazem com que as performances viscerais de entendimento dúbio gerem uma identificação ao público, fornecendo a eles a liberdade de projetar sua vivência naquilo que veem em cima do palco.

(Fonte: acervo UTFPR)

Amparo, seu elenco e particularidades

Amparo teve sua estreia oficial em 2022. De acordo com Ismael, nessa época a obra contava com mais personagens e narrativas, diferente da reestreia em novembro de 2023. O diretor, ao ser indagado sobre as dificuldades que circularam (e ainda circulam) o projeto, discorre sobre a burocracia relacionada à ajuda de custo que o Teatro da UTFPR (TUT), projeto institucional de extensão da universidade, recebe da diretoria do campus para financiar os projetos culturais na instituição. Ismael afirma que esse auxílio é imprescindível para o refinamento do espetáculo em suas questões técnicas, mas que para se ter acesso a esse recurso é demandado muito tempo e esforço devido aos seus trâmites.

O mesmo fala sobre algo que, para ele, não pode ser chamado de dificuldade, mas sim uma característica do processo de produção da peça, que é o intenso trabalho corporal realizado pelos atores. “É um trabalho corporal intensivo, de consciência, de detalhes mínimos de movimentação. Isso exige uma disciplina (dos atores)”, diz o diretor. 

Edu Lima, um dos artistas que atuam em Amparo, relata o empecilho relativo ao cenário, que foi disponibilizado somente após alguns ensaios: “Tive que transpassar os movimentos pensados em uma delimitação quadrada no chão para uma plataforma com dois ambientes e diversas possibilidades de interação”. Sobre o quesito físico da performance, Edu  descreve como “preciso, leve e concreto”. Toda essa construção corpórea, que se faz indispensável para o espetáculo, justifica um dos principais (se não o principal) requisito para a seleção do elenco, que é ter tido algum trabalho corporal já desenvolvido, podendo ser um fundamento em teatro, dança, atividades circenses, yoga ou até artes marciais, para que o indivíduo demonstrasse uma base de consciência do corpo.

(Fonte: acervo UTFPR)

 Mariably Ivanka, atriz que interpreta uma das personagens sem nome, fala um pouco sobre as mudanças entre a estreia e a reestreia da peça: “Sinto que houve um refinamento dos movimentos e até uma maior adaptação gestual à trilha sonora, algo que não era uma prioridade da performance, mas foi naturalmente se moldando com os ensaios”. 

(Fonte: acervo UTFPR)

Mazi Moreto, artista com trabalhos diversos em âmbitos artísticos e que interpreta uma persona fundamental para a obra, reflete sobre o que a arte cênica traz para seus outros projetos: “Me ajudou a enriquecer meu entendimento pessoal, ganhar novas referências visuais e corporais e quebrar os vícios construídos ao longo das outras produções”. A atriz diz também que a dedicação de uma atenção minuciosa que se faz essencial em cima do palco, a ajuda a ultrapassar sua timidez e introspecção. Por fim, Mazi, que além de artista é estudante da UTFPR, afirma: “Me encontrei muito no teatro corporal”.

A importância do teatro em uma universidade tecnológica

Quando analisado o modelo da educação na UTFPR, percebe-se que ela se baseia em moldes tecnicistas, propiciando um ambiente para a formação de profissionais voltados diretamente às áreas de trabalho mais tradicionais, hierarquizadas e que priorizam a mão de obra qualificada. Logo, o pensamento crítico não é uma prioridade na maioria dos componentes curriculares disponíveis na universidade. Então, estudos que se distanciam do prático e exigem do aluno um discernimento crítico, como as artes e as ciências sociais, são pouco incentivadas. Ismael defende a importância do projeto: “Um grupo de teatro, que completou 50 anos no ano passado, traz para a instituição um espaço para fluir e debater arte. Ele também faz uma ponte com a sociedade ao oferecer atividades culturais que interessam a qualquer tipo de pessoa, pois a universidade se abre para a comunidade experienciar a faculdade pública além da sala de aula”.

Por fim, recomenda-se a todos que procurem frequentar produções culturais em ambientes públicos para que a população, em todos os níveis organizacionais, possa gozar dos seus direitos à educação, cultura e lazer.

Crimes financeiros: agiotagem a luz da lei e da realidade no Brasil

Por: Brenda Balista

Foto: Acervo de imagens Mojo.

A agiotagem, também conhecida como empréstimo a juros extorsivos ou ilegais, é uma prática proibida no Brasil, porém ainda muito comum, e consiste em empréstimos de dinheiro com taxas de juros muito acima das estabelecidas por lei.

No Brasil, as taxas de juros são regulamentadas pelo Banco Central, e qualquer atividade financeira que envolva empréstimos deve seguir as normas estabelecidas. A prática do empréstimo pessoal é considerada crime, sujeita a punições legais que variam de 6 meses a dois anos de prisão e multa, mas então, o que leva alguém a recorrer a esse tipo de credor em vez de uma instituição financeira regulamentada e estabelecida?

Dona Leo, que prefere não ser identificada, tem 59 anos e há 30 mora no mesmo bairro, onde também possui um comércio conhecido pela vizinhança. Ela conta que começou a fazer empréstimo para amigos próximos a fim de ajudá-los, mas com o tempo, a gentileza acabou virando uma fonte de renda extra e muito lucrativa. “Meus conhecidos da região costumam procurar pelos serviços. A maioria deles quer evitar a burocracia dos bancos ou está com alguma pendência. Como se trata de acordos mais informais, existe uma flexibilidade maior na hora de pagar, seja pela negociação ou pela própria forma de pagamento, que não se limita a dinheiro, mas também pode acontecer em objetos de valor como jóias, carros, imóveis e eletrônicos como garantia”, conta.

Quando questionada sobre a inadimplência de seus clientes, Dona Leo revela que nunca precisou usar a violência, mas já enfrentou algumas situações estressantes e aprendeu a se prevenir: “Correr riscos faz parte dos negócios. Já perdi dinheiro com maus pagadores, mas criei novas formas de negociar. Hoje, quando um cliente precisa de dinheiro, formalizamos isso através da procuração de um carro, de um imóvel ou algum bem como garantia. Isso não é um acordo somente verbal, documentamos alguns acordos que podem entrar como garantia”.

De fato, muitas das atividades passíveis de serem reconhecidas como agiotagem começam assim, entre pessoas próximas que firmam acordos particulares a respeito dos empréstimos a troco de juros. Mas por se tratar de uma atividade sem o respaldo da lei, o credor costuma fazer suas próprias regras e, quando há outros fatores criminosos envolvidos – como o tráfico, extorsão e drogas – nem toda negociação acaba de maneira tão amigável assim.

Cobrar dinheiro de quem deve para agiotas é o serviço que o colombiano Tiago exercia até poucos meses atrás. Em entrevista dada ao jornal Zero Hora, em 12 de julho de 2023, o colombiano diz que cartéis estão por trás de agiotagem e jogatina ilegal no Brasil. Seus chefes também são da Colômbia e o trouxeram para o Rio Grande do Sul, com a missão de evitar a inadimplência. Recentemente, ele largou tudo, decepcionado com as condições de trabalho e com a suspeita de que, por saber demais da atividade ilegal, corria riscos.

Para a advogada criminalista, Gabriela Lólia (OAB: 94767/PR), a agiotagem é associada ao crime por geralmente ser um fator secundário de outras atividades criminosas e a hierarquia presente nos sistemas que tangem a lei: “Raramente os agiotas respondem criminalmente pelo crime de usura, que é a agiotagem. Normalmente eles acabam sendo detidos por outros crimes relacionados, até porque a agiotagem e o tráfico de drogas normalmente andam lado a lado também, já que no tráfico acaba sobrando um dinheiro”, diz ela.

A criminalista ainda explica que o empréstimo entre pessoas físicas pode ser lícito desde que obedeça os limites legais das taxas de juros e preferencialmente que seja feito um contrato, documentando todas as cláusulas deste acordo para que nenhuma das partes seja lesada. “Para agiotas mais agressivos, estes limites legais não são tão atrativos, já que o valor dos juros acaba sendo muito baixo se comparado ao praticado pelos agiotas que cobram porcentagem de até 40%, 50% de juros semanais. Nesses casos, quando o agiota se sente lesionado e vê que a dívida não vai ser paga, ele não vai procurar a justiça ou a polícia para recuperar esse valor. Ele simplesmente vai cobrar da forma que pode, que é através da violência e a ameaça, muitas vezes cobrando até com a vida, como se diz no mundo do crime, para que isso sirva de exemplo aos demais”, informa.

Quando questionada sobre os casos de agiotagem já atendidos, Lólia conta que já atendeu algumas vítimas de agiotagem, todas elas foram resolvidas extrajudicialmente, mas um caso em específico chamou a atenção pela peculiaridade: “Meu cliente havia feito um empréstimo para uma pessoa e ele foi cobrar essa pessoa por um bem para garantia, no caso, meu cliente pegou um celular como pagamento. No dia seguinte a pessoa que entregou o celular fez uma denunciação caluniosa de roubo. Chamou a Polícia Militar e alegou que havia sido roubado à mão armada, tudo isso para ter o bem de volta. Mas foi comprovado  que eles se conheciam e haviam mensagens e transferências bancárias de um para o outro. Então neste caso, por conta da denunciação caluniosa, o meu cliente acabou sendo absolvido deste crime de roubo”, relembra.

O que diz a lei?

A Lei 1.521/51 é a que trata de crimes contra a economia popular, define alguns pontos para esclarecer sobre o delito:

Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando:

a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito;

b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida.

No entanto, o que poderia ser considerado ou não uma taxa de juros abusiva? Denominar a prática por si só como um crime parece uma forma de manter as regras do próprio sistema financeiro e o monopólio dos grandes bancos. A taxa de juros cobrada pelo Banco Central por exemplo, corresponde a 12,25% ao ano, enquanto os cartões de crédito, que podem ser considerados o maior meio de agiotagem que existe, pode ter taxas de juros que extrapolam a casa de 3 dígitos, como consta na tabela de taxa de juros de cartão de crédito para pessoa físicas do Banco Central.

Reflexões como essa colocam em xeque a monopolização das grandes instituições e dão abertura para novos debates, como o  Projeto de Lei 2328/07, da Comissão de Legislação Participativa, que descaracteriza a ocorrência de crime de usura ou agiotagem quando a taxa de juros cobrada for inferior à praticada pelas instituições financeiras. O projeto altera o artigo 4º da Lei dos Crimes contra a Economia Popular (1.521/51) e foi sugerido pelo Conselho de Defesa Social de Estrela do Sul (MG). 

O objetivo da proposta, segundo a entidade, é acabar com uma distorção, já que atualmente as instituições financeiras podem cobrar qualquer taxa de juros, enquanto particulares são enquadrados como criminosos, mesmo cobrando juros inferiores aos praticados no mercado.

Na semana passada, a Netflix disponibilizou em sua plataforma o filme “David contra os bancos” lançado em setembro deste ano: “A comédia dramática é baseada na história real de Dave Fishwick, um empresário idealista que decidiu lutar contra o sistema e abrir seu próprio banco para ajudar sua comunidade. O bem-sucedido vendedor de vans britânico de Burnley – uma cidade que já foi referência em produtividade e lucro, mas agora está em decadência – decide abrir um banco que usa dinheiro local para financiar empresas locais. No entanto, ele logo trava uma batalha difícil enquanto tenta convencer a elite das autoridades financeiras sediadas em Londres a conceder-lhe uma nova licença bancária. Ao lado de seu advogado, ele se tornará um herói de sua região”, segundo a sinopse disponibilizada no site Adoro Cinema. A trama aborda a marginalização da atividade dos credores locais e a monopolização de grandes instituições usando como exemplo o sistema financeiro inglês que há 150 anos não aceitava “concorrentes” no mercado.

Bia conheceu os dois lados da moeda. A estudante de 24 anos, que preferiu não ser identificada pelo nome verdadeiro, não teve uma boa educação financeira e confiava seus gastos desenfreados nas parcelas do cartão: “[…] quando chegava o dia de fechamento da fatura, eu não tinha 1 real em conta e pensei que não teria problema resolver depois, só não imaginava que os juros acumulariam tão rápido”.

A universitária entrou na lista negra do Banco Central pela inadimplência. Para renegociar as dívidas, e sem possibilidade de crédito em bancos, ela recorreu a um conhecido para  adiantar algum dinheiro enquanto se reorganiza. “Se não fosse dessa maneira, eu estaria sem saída para resolver isso. Agora estou mais atenta com a organização do meu dinheiro e espero não precisar nem do banco e nem de um agiota por um bom tempo”, conta enquanto ri aliviada depois do susto.

Ainda preciso de dinheiro. E agora?

Foto: Acervo de imagens Mojo.

O superendividamento não escolhe idade, cor ou classe social. Não é um fenômeno apenas jurídico, mas afeta aspectos sociais e psicológicos das pessoas. O alerta é da coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Alessandra Bentes, que participou da audiência pública no Senado sobre o projeto que trata da prevenção do problema (PLS 283/2012).

Segundo a defensora, em entrevista para o portal Senado Notícias, não existe um padrão definido para o superendividamento, que pode acontecer com quem recebe um ou dois salários mínimos ou mesmo com aqueles que ganham R$ 20 mil mensais, os quais ainda assim ficam com a renda totalmente comprometida, sem disponibilidade financeira sequer para a alimentação.

Ela citou a oferta “banalizada” de crédito como uma das principais causas do superendividamento e criticou as propagandas oferecendo crédito fácil, sem a necessidade de comprovação da capacidade econômico-financeira, classificadas por ela como “agiotagem legalizada”: “Infelizmente a realidade do país não é de pessoas esclarecidas. Existe grande número de analfabetos funcionais, que leem e não entendem o conteúdo de um contrato. Não têm a menor noção do que estão assinando. E os consumidores são abordados na rua com propostas aparentemente sedutoras”, relatou.

Antes de recorrer a empréstimos, é preciso criar um planejamento estratégico das próprias finanças e construir uma reserva de emergência para imprevistos. Deixar aquela viagem para outra hora e priorizar os gastos essenciais pode ser a saída de uma dor de cabeça maior no futuro. 

Se mesmo assim houver a necessidade de crédito, são válidas as recomendações de Sérgio Tannuri, advogado especialista em Direito do Consumidor, para o portal Estado de Minas em abril de 2022: “O mais confiável é procurar bancos, de preferência os estatais, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Também é possível procurar bancos populares, que concedem micro-créditos, ou mesmo fazer um empréstimo consignado, que tem juros mais baixos que debitado, gradualmente, da folha de pagamento do profissional ou do seu benefício previdenciário”. 

O advogado também alerta sobre os riscos de negociar com agiotas “Os métodos controversos de cobranças dos agiotas podem oferecer riscos à segurança dos solicitantes, até porque não se sabe a origem do dinheiro emprestado”.

A importância do incentivo à cultura do teatro e artes cênicas nas escolas, e a interferência das redes sociais no processo

Por: Maria Olivia Aude e Millena Ferreira

O Festival de Teatro de Curitiba é um fenômeno nacional e, entre suas atrações, está o Guritiba, parte do evento dedicada ao público infantil. Desde 2010 este evento paralelo oferece espetáculos para as crianças durante o Festival. A programação de 2013 contou com espetáculos diários durante as três semanas de festival, diferente de 2023, em que apenas duas peças teatrais integraram o Guritiba com somente quatro sessões durante dois finais de semana. 

Essa queda nas ofertas de teatro infantis pode ser percebida de diferentes maneiras. Primeiro, pela falta de engajamento das crianças em torno das artes cênicas; depois a desmotivação dos pais em incentivá-las e até a preferência pela tecnologia e redes sociais  em detrimento de assistir a uma peça de teatro. Quando comparada ao valor de uma assinatura de streaming, por exemplo, o custo do teatro  pode ser considerado como um valor elevado.

Guritiba (Foto Susan Sena divulgação)

A fisioterapeuta Luciani Possamai, mãe de uma jovem de 19 anos e um menino de 12 anos, relata a diferença entre a vivência escolar de seus dois filhos que estudaram no mesmo colégio. A mãe recorda que, quando sua filha mais velha era menor, trazia diversos convites para o teatro, tinha uma maior divulgação das peças, com preços mais acessíveis e temas mais interessantes e relevantes para a idade dos pequenos.

Com o mais novo, já percebe ser diferente. Luciani conta que não existem tantas ofertas e, quando existem, o preço é elevado e o tema é desinteressante: “Tinham mais peças antes, tinha mais acesso e divulgação nas escolas. Na verdade, hoje eu nem vejo muita oferta de peças de teatro interessantes e educativas”, afirma.

Considera-se que a escola é o primeiro lugar de socialização sem a presença parental que a criança frequenta, onde as experiências vividas nesse espaço podem impactar no decorrer do cotidiano do indivíduo. Por isso, a relação do teatro com o ambiente escolar é de extrema importância.

O teatro surgiu no Brasil por volta do século XVI com um viés religioso, buscando de uma forma mais didática passar ensinamentos catequéticos. Já as encenações direcionadas ao público infantil chegaram no ano de 1948, com a produção “O  casaco encantado”, escrita por Lúcia Benedetti. 

Há pelo menos 50 anos, o teatro é levado às escolas brasileiras com o intuito de aumentar o repertório cultural dos alunos, incentivar a criatividade, imaginação, aprimorar a oralidade e a expressão corporal das crianças. Como consequência, pode-se ver uma melhor socialização e o senso de coletividade adquiridos pelas crianças que, além de meros espectadores, se tornam capazes de desenvolver todas essas habilidades com aulas de teatro que podem ser oferecidas nas escolas.

Estas vivências permitem aos estudantes sentir grande capacidade de criar e imaginar, “fazendo com que seu comportamento, educação e dia-a-dia tornem-se mais leves”, relata Beatriz Goulart, formada em Magistério pelo Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto.

Desde as peças teatrais clássicas, até peças com temas livres, escritas  de forma independente por artistas e levadas ao meio escolar, todas têm a capacidade de despertar a imaginação e criar um repertório cultural para a criança. É muito  importante incentivar os estudantes desde os primeiros anos escolares a assistirem peças e assim, tentar despertar seu interesse pelo teatro. 

Por outro lado, a desigualdade social no Brasil também é um empecilho para as crianças. Apesar de diversos eventos culturais proporcionarem entrada franca, muitas vezes, como citado por Luciani Possamai, até mesmo o teatro nas escolas tem um preço elevado, que pode se tornar um fator de impedimento para os estudantes,  devido à sua realidade financeira. 

Peça A Divina Comédia – Graduandos Ensino Técnico CEP 2021

O Colégio Estadual do Paraná (CEP), localizado na capital paranaense, desenvolve um grande trabalho de incentivo às aulas teatrais e à cultura de ir ao teatro. O CEP apresenta em sua matriz curricular um curso técnico em teatro, que estimula o estudo na área e forma profissionalmente pessoas para trabalharem com as artes cênicas. O colégio também disponibiliza cursos para alunos, assim como para a comunidade de fora da escola. Um exemplo é o grupo Gruta, que pode ser frequentado por alunos e não alunos previamente inscritos e matriculados. 

Vale ressaltar que as produções teatrais realizadas pelos alunos do curso técnico de teatro e do grupo Gruta também são apresentadas ao longo do ano para estudantes, bem como para o público geral de forma gratuita. 

A Produção de Teatro para Escolas

Em análise sobre as dificuldades enfrentadas com a falta de oferta de peças teatrais nas escolas, também é possível questionar como os produtores teatrais são recebidos pelos estabelecimentos de ensino. Sabe-se que é de grande necessidade e interesse dos docentes proporcionar atividades culturais para os alunos, mas nem sempre a recepção com os artistas é favorável. 

Segundo o produtor de teatro Adelmo Schiessel, a maior questão é o desinteresse da juventude, que ele diz ser passado de geração em geração. O produtor declara que essa geração de pais muitas vezes falha na hora de incentivar as crianças a frequentarem o teatro e espaços culturais. 

De acordo com ele, suas peças em geral são muito bem aceitas pelas escolas, visto que o conteúdo é focado na educação, buscando sempre passar algo didático e útil para a formação pessoal e acadêmica dos estudantes. 

Por outro lado, existem as batalhas enfrentadas contra as mídias sociais, que muitas vezes prendem mais a atenção dos alunos. Já é certo que o uso das redes impacta diretamente no foco e aprendizado da criança, diz a educadora Bisa Almeida, entrevistada pelo Portal A Tarde: “O uso excessivo das redes sociais faz com que as crianças se tornem mais superficiais, imediatistas e simplificadas”. Desta forma, limitando a criatividade e prejudicando o foco da criança que, pelo imediatismo, acha entediante algo que a prenda por mais do que 5 minutos, dificultando a aderência das crianças nas peças. 

Schiessel, produtor de teatro desde 1996, relata a diferença entre as gerações e a atenção que suas peças recebem do público. “A evolução da tecnologia é fantástica e muito positiva, mas existem dois lados, para o meu trabalho e qualquer área artística, a tecnologia dificultou muito. Há anos atrás era mais fácil trabalhar com os jovens, atualmente, mesmo trabalhando o tema das redes sociais nas peças, é difícil levar o aluno ao teatro, já que eles têm todo o tipo de efeitos, filmes, séries na palma da mão com o aparelho celular, a competição da atenção é grande!”.

A formação psicológica da criança

Além de entretenimento e formação de repertório cultural, o teatro também serve como um formador do ponto de vista psicológico. Por meio da observação e prática da atuação, possibilita uma familiarização das crianças com as expressões humanas.  Desta forma, melhora o desenvolvimento do senso de empatia, essencial para a formação de um indivíduo capaz de conviver em grupo e compreender a diversidade da sociedade, o que facilita a socialização e a troca de experiências pessoais.

Escola Nacional de Teatro

A psicóloga Stephanie Goulart afirma que o teatro tem grande importância no desenvolvimento da criança: “O teatro pode servir como uma ponte para que as crianças cresçam com um olhar mais sensível diante do outro e sobre si mesmas. O exercício de estar na atuação de algum outro papel permite que visão de mundo possa ser ampliada, isso ajuda na construção de um senso de alteridade, assim como uma visão sociopolítica sobre o meio que se vive, a cultura e as relações como um todo.” 

Além disso, “o teatro tem o poder de ativar várias partes do cognitivo de uma criança”, afirma a professora Beatriz Goulart. Como consequência, sua criatividade é aflorada, sendo um dos pontos chaves para o bom desenvolvimento dos pequenos, uma vez que pode criar e imaginar muito mais, tornando o comportamento, a educação e o dia a dia mais leves.

Incentivar o estudo e a participação em aulas de teatro na vida das crianças  é fundamental. Os responsáveis que notarem esse interesse nos pequenos devem valorizar o estudo dessa arte, que por diversas vezes é ignorada ou substituída. Isso porque hoje, infelizmente, o teatro é bastante desvalorizado no Brasil.

Dentro das escolas

A perspectiva pode ficar diferente se for analisado o lado dos docentes das escolas que, em âmbito geral, buscam incentivar eventos culturais como a ida ao teatro. Rejane Gbur, diretora da Escola Municipal Júlia Amaral Di Lenna, afirma que as crianças menores demonstram muito interesse nas peças: “Os olhinhos brilham, eles ficam bem atentos, é um momento mágico”, declara. 

A escola em questão, localizada no bairro da Barreirinha, em Curitiba, possui 34 turmas e o governo disponibiliza ao menos uma ida ao teatro no ano para cada turma. O que é uma baixa frequência, principalmente se levarmos em conta que as crianças pequenas têm um grande interesse. A diretora diz que poucas famílias têm a cultura de ir ao teatro e o que mais prejudica o incentivo é a falta de acesso, principalmente condições financeiras para essa prática. Por isso a importância de serem disponibilizadas oportunidades nas escolas. Além da questão da concorrência das mídias digitais, que Rejane diz ser um outro grande empecilho, já que, atualmente, são priorizadas por terem mais fácil acesso. 

Outro benefício de frequentar o teatro é a educação comportamental. “As crianças entram em contato com a arte, cultura e diferentes cenários. Também ajuda em como se comportar em uma formação de plateia, mostra novas possibilidades”,  afirma a diretora.

Teatro itinerante leva educação ambiental a escolas públicas de Curitiba

Estudos feitos por renomadas universidades, como o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard, King’s College e da Brown University, certificam que o principal período de desenvolvimento é durante a primeira infância, de 1 a 6 anos. É neste período que o ser humano possui a maior capacidade de aprendizado e formação intelectual.

Por isso,  a escola tem um papel tão importante em proporcionar, além da educação formal, a formação intelectual do indivíduo, uma vez que é o primeiro contato de socialização que a criança frequenta sem a presença dos pais. Dessa forma, a escola deve incentivar de diversas maneiras o aumento do repertório de aprendizado, como, por exemplo, assistir peças de teatro, participar de grupos de atuação e contar histórias enriquecedoras para a imaginação.

Interferência das redes sociais no processo

Não é segredo que as redes sociais interferem no cotidiano das pessoas, seja de forma positiva ou negativa. A tecnologia é essencial para o desenvolvimento da humanidade, porém distancia as pessoas em relação às artes, cultura e socialização face a face. Principalmente em relação aos jovens que já cresceram em contato com a internet, tornando muito difícil o interesse por outros assuntos, como o teatro, por exemplo.

“O uso abusivo das redes sociais desestimula as crianças a buscarem exercícios e atividades onde elas precisam se colocar de modo mais ativo, onde elas sejam protagonistas, uma vez que as redes sociais acabam criando uma forma mais passiva de recebimento das informações, bem como criam uma ilusão de aproximação, quando na verdade podem aumentar a distância das relações humanas, dependendo do uso”, afirma a psicóloga Stephanie Goulart. 

Já se conhece os diversos malefícios que o uso contínuo de aparelhos eletrônicos pode trazer aos jovens, como aumento da ansiedade, comprometimento da saúde física e psicológica, desconstrução do vínculo afetivo com a família e outros. Mas é importante ver que a mesma que traz malefícios pode ser uma forma de auxiliar o incentivo ao teatro, como já visto anteriormente, uma forma dos jovens experimentarem a cultura, desenvolvimento cognitivo e intelectual. 

“É complicado levar o aluno assistir uma peça de teatro, quando se tem o aparelho celular na mão com acesso a diversos tipos de distrações, filmes e tudo mais”, lamenta o produtor de teatro Adelmo Schiessel. É necessário pensar em uma maneira de integrar o digital às peças para que tenha um maior interesse dos jovens.

Então sim, o uso das mídias sociais enfraquece a arte em um geral, já que o acesso é muito mais simples para a agilidade e a pressa dos dias atuais. Mas, por outra perspectiva, as redes sociais podem ajudar para que a entrega de informações e a divulgação de eventos culturais cheguem a mais pessoas e que a vontade de participação aumente através do uso das redes, por meio de vídeos, fotos e o incentivo.