Vôlei de Praia: história e novos talentos

Modalidade completa 28 anos como esporte olímpico em Paris 2024

Por Julia Gonçalves

 Em 2024, Paris será o palco da 33° edição dos jogos olímpicos de verão. Neste mesmo ano, o vôlei de praia completa 28 anos como um dos esportes que faz parte deste evento mundial. O vôlei de praia é uma adaptação do vôlei tradicionalmente jogado na quadra, para as areias. A modalidade esportiva surgiu em meados de 1920, na Califórnia, EUA, e era praticado como um hobby. Por volta de 1940, começaram a surgir competições e torneios de vôlei de praia e somente nos anos 1970 houve a profissionalização do esporte. No ano de 1996, o esporte foi finalmente consagrado como uma das mais de 30 modalidades que competem olimpicamente.


Pela oitava vez, o vôlei de praia estará entre as modalidades que disputarão as olimpíadas. Brasil e Estados Unidos são as duas potências tradicionais do jogo. Em Paris, o Brasil buscará tirar o atraso de Tóquio 2020, onde pela primeira vez não subiu ao pódio olímpico. O país tem 24 duplas em cada categoria, totalizando 96 atletas no masculino e feminino. O último ranking da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) mostra ao menos quatro duplas brasileiras no top 10 como André Stein/George Wanderley e Renato/Vitor Felipe no ranking masculino, e Bárbara/Carol e Duda/Ana Patrícia – Campeãs Mundiais 2022 – no feminino.


Outras duplas que certamente serão destaque nos jogos são as norte-americanas April Ross/Alix Klineman, que levaram o ouro em Tóquio 2020 e as australianas Taliqua Clancy/Mariafe Artacho del Pilar, medalhistas de prata das últimas olimpíadas. As expectativas são altas para o próximo ranking olímpico. Muitos ousam dizer que estarão presentes duplas da Itália, Países Baixos, Polônia e
Alemanha, equipes essas que têm um bom desempenho na areia.

Técnicas e Táticas

O vôlei de praia conta com técnicas e táticas diferentes do vôlei de quadra, uma vez que as dificuldades encontradas são outras. Na modalidade de areia, o ambiente influencia diretamente no jogo, assim como na divisão da cobertura de quadra, afinal, são apenas dois jogadores para uma área de 16 x 8m.

  • Uma partida pode ter até 3 sets no vôlei de praia, sendo dois de 21 pontos
    e caso necessário, um terceiro set de 15 pontos, chamado tie-break.
  • Na modalidade, é proibido fazer o uso das pontas dos dedos em bolas
    largadas, pois configura uma condução. Para isso, existe um recurso
    chamado croque, que consiste em bater na bola com os dedos dobrados.
  • As marcações das jogadas são feitas com números. O bloqueador
    comanda o jogo marcando qual será sua ação em relação ao adversário.
    O jogador do fundo deve seguir a marcação combinada para que a defesa
    seja eficiente.
  • Sempre que a bola toca no bloqueio é considerado um toque, o que
    dificulta as próximas ações.
  • A ação do levantamento de toque deve ser executada de maneira que a
    bola saia das suas mãos parada. Caso a bola gire, pode ser considerado
    pelo árbitro dois toques.

A modalidade hoje

Mesmo o Brasil sendo um dos grandes representantes do vôlei de praia mundial, ainda é uma modalidade esportiva que enfrenta muitos desafios. Fernando Mathias da Silva começou a jogar aos 16 anos de idade e hoje é treinador em um projeto social Associação Curitiba de Vôlei de Praia (ACVP), além de ser estudante de educação física na Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR), na capital paranaense.

A Associação começou como uma espécie de contra turno, para que crianças e adolescentes praticassem um esporte fora do horário em que estivessem na escola. Com o passar do tempo, os idealizadores da ACVP notaram o potencial de alguns alunos e a procura pelo projeto por parte de jovens atletas. Assim, a associação deu início às turmas de rendimento, levando seus atletas de base para campeonatos paranaenses e chegando a nível brasileiro. Fernando relata que, apesar de existirem incentivos através de leis e projetos governamentais, permanecem as dificuldades na captação de recursos que financiem o esporte. Ele ainda comenta que a visibilidade da modalidade no país é muito menor se compararmos ao vôlei de quadra, por exemplo. Mas ressalta que o público consumidor do vôlei de praia vem aumentando gradativamente.

Para as olimpíadas, as expectativas do técnico são polêmicas. “No feminino temos grandes chances de avançar na competição, já no masculino as chances são baixas”, diz ele. Ao ser indagado sobre questões táticas das categorias citadas, Fernando se aprofunda nas diferenças entre os jogos masculinos e femininos. “No masculino costumamos ter um jogo mais rápido, de explosão. Saques fortes, ataques potentes…isso torna um rally muito mais curto, pela dificuldade e maior brecha para erros na defesa. No feminino temos o que chamamos de volume de jogo. Durante um rally a bola normalmente não vem com tanta potência, são jogadas mais estratégicas, tanto no ataque quanto na defesa. Isso permite que a disputa do ponto se torne mais demorada, com muitas ações de contra-ataque e defesa”.

Os atletas que representam o Brasil profissionalmente hoje, segundo ele, têm um bom nível, mas poderia ser melhor ainda com maiores investimentos no esporte. As Categorias de base no Brasil também são uma grande promessa no vôlei de praia profissional. As apostas do técnico Fernando estão em Carol Sallaberry, de 18 anos, e sua parceira Marcela, de 16, que hoje representam o Sesc Botafogo Praia. “As meninas fazem parte de um centro de treinamento com uma estrutura de alto nível, o que permite seu desenvolvimento em quadra. Não é à toa que ambas já foram campeãs e pegaram pódios em diversas etapas do Circuito Brasileiro e agora competem até mundialmente”, declara. Já na categoria masculina, a dupla em questão é formada por Henrique e Pedro. Ambos aos 19 anos, terminaram o Campeonato Mundial Sub-21 em 4° lugar, além de tantos outros títulos Brasileiros.

O Paraná tem grandes nomes que representam muito bem o estado Brasil e mundo afora. Gabriel Zuliani, natural de Paranavaí, iniciou aos 12 anos por influência de um amigo, e grande nome do vôlei de praia, Adrielson. Hoje, Zuliani joga representando a cidade vizinha pela Associação Maringaense de Vôlei de Praia (AMVP). Aos 22 anos, o atleta já conquistou diversos títulos como 1° lugar no Circuito Brasileiro Sub-19, Sub-21 e Adulto, Vice-campeão TOP12, Vice-Campeão Sul-Americano e 5° lugar Mundial.

Gabriel Zuliani e Felipe Cavazin – 1° lugar Brasileiro Adulto
(Reprodução via Instagram)

Ele começou no esporte cedo e sempre se mostrou muito habilidoso. Com o auxílio do centro de treinamento de Maringá, seu rendimento melhorou cada vez mais nas categorias de base, tornando-o um dos destaques das categorias adulto e aberto. Perguntado sobre as equipes brasileiras nas olimpíadas, afirma: “Temos boas chances de chegar nas semis, porém, a nível mundial o Brasil tem melhorias a fazer. Ainda temos duplas que não acompanharam a evolução do vôlei de praia, das táticas de jogo, enfim… são atletas ótimos, de alto rendimento, mas que devem se atentar a certas questões”.

Ainda nas categorias de base, existem muitos nomes paranaenses. Eloisa Figueira já foi atleta do técnico Fernando Mathias e hoje é estudante do 2° período de Educação Física na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atualmente, Eloisa dedica seu tempo à faculdade e pretende seguir carreira na área do vôlei. Ela conta que já participou diversas vezes de campeonatos estaduais e chegou a competir em Circuitos Brasileiros na categoria sub-19, representando o Paraná.

Eloisa Figueira – Jogos Escolares 2022
(Créditos Acervo Pessoal da Atleta)

Agora, a jovem leva o vôlei de praia como um hobby e diz que sempre treina com a antiga parceira. “Estou no meu último ano de sub-19 e infelizmente tive que tomar a decisão de parar. A faculdade sempre foi algo que eu almejei e não seria possível conciliar os dois. Houve adversidades e eu escolhi seguir um caminho que eu sei que em algum momento trará o vôlei para a minha vida de novo, seja jogando ou podendo passar meus conhecimentos para frente”. Eloisa também ressalta a importância do reconhecimento da modalidade. “As pessoas têm o hábito de achar que vôlei de praia é simplesmente jogar vôlei na areia. As regras são diferentes, porque o vôlei de quadra e de praia são esportes diferentes”, diz ela.

Vôlei de praia no Brasil, o início de tudo
No Brasil, o vôlei se popularizou em 1930, nas praias cariocas. Mais tarde, nos anos 1980, Copacabana e Ipanema foram palco dos primeiros campeonatos amadores masculinos. Naquela década, a Federação Internacional de Vôlei, realizou duas edições do Hollwood Volley: a primeira (1985) foi entre atletas brasileiros e a segunda (1986) trouxe equipes internacionais. O evento do ano de 1986 foi marcado pela disputa entre Brasil e Estados Unidos, em Santos, onde as duplas brasileiras masculina e feminina levaram a melhor colocação.

Após o sucesso do Hollywood Volley, em 1987 é realizado o primeiro Campeonato Mundial de Vôlei de Praia, chamado na época de “Mundial de Voleibol de Dupla na Areia”. A seleção de duplas que representariam o Brasil foi decidida através de campeonatos classificatórios, bem como as equipes do Japão, México, Argentina, Chile e Itália. Diferentemente, as duplas norte-americanas convidadas foram as melhores e mais conhecidas, sem a necessidade de seletivas para participar do Mundial.

A disputa rendeu ao Brasil a terceira colocação, com Montanaro e Renan, ficando atrás de duas duplas americanas. As semifinais e a final do Mundial foram transmitidas ao vivo pela primeira vez na história, na TV Globo. Em 1989, ocorreu o 1° Campeonato Brasileiro da modalidade, o chamado “Brasil Open”.
Os melhores classificados do Brasileiro poderiam disputar o Mundial, que no ano seguinte, pela primeira vez, assumiria o formato de circuito, tendo a primeira etapa no Brasil e as seguintes em outros lugares do mundo.

O Campeonato Brasileiro Masculino passou a ser disputado em forma de circuito em 1991 e feminino em 1993, mesmo ano em que o Circuito Mundial passou a ter a categoria feminina. Já em 1996, o vôlei de praia tornou-se uma modalidade olímpica. A final das olimpíadas foi disputada no masculino pelos americanos Kiraly e Steffes que derrotaram Withmarsh e Dodd. Na categoria feminina, houve o embate de duas equipes brasileiras – Jaqueline e Sandra / Mônica e Adriana – fazendo um jogo digno de estreia para o país na competição e mostrando que o Brasil não é só o país do futebol.

Pódio das Olimpíadas de 1996 em Atlanta – EUA
(Créditos: Acervo/CBV)

O vôlei de praia é um esporte recente em termos de tempo histórico. No entanto, deveria ser mais valorizado e consumido. O Brasil tem atletas cada vez mais novos, formando duplas com uma qualidade inacreditável. Incentivar a modalidade não é só sobre praticar uma atividade física, é sobre fazer parte de uma história.

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