The Eras Tour: Como a economia local das cidades têm sido afetada pela passagem da turnê da artista pop Taylor Swift

Por Aline de Meireles

Mesmo sob chuva e horas de fila, os fãs da cantora Taylor Swift tiraram a última sexta-feira de novembro (24) para se dedicar ao que para muitos é o sonho de uma vida. Com roupas fazendo referências a looks da artista, trechos de músicas e a estéticas dos álbuns, o que não faltaram foram cores, brilhos e muitas lágrimas nos olhos por todos os cantos ao redor do estádio Allianz Parque em São Paulo, onde aconteceu o primeiro show da The Eras Tour – turnê internacional da artista.

     O show, que possui pouco mais de 3 horas e meia de duração, tem a proposta de contemplar os 17 anos de carreira da artista, passando por sets de seus 10 álbuns lançados. Durante o espetáculo, ocorrem trocas de cenário e figurino para representar cada um destes trabalhos, além de pausas em que a artista conta um pouco mais sobre seu trabalho, como surgiu a ideia da turnê e o motivo dela estar regravando seus primeiros 6 álbuns.

Foto: Aline de Meireles / Imagem capturada no show do dia 24 de novembro de 2023 durante o primeiro set que é dedicado ao álbum “Lover”.

     Eventos de grande porte como esse têm uma demanda de diversos setores e organizações que interagem de forma direta ou indireta com eles, que vai desde o setor de segurança, aos comerciantes, hotéis, transporte e o próprio público, por exemplo. 

     Em entrevista para a CNN Brasil o especialista em Turismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Coelho comentou um pouco sobre o impacto econômico desses eventos referentes às transações financeiras imediatas, como as vendas de ingressos, pagamento de salários, contratação de serviços e compra de insumos que serão vendidos ou distribuídos durante o show e destacou os efeitos disso nos demais setores. “Eles surgem como resultado dos gastos diretos, criando um efeito multiplicador que se propaga por meio das interações econômicas”, diz. Para ele, esse tipo de resultado é uma justificativa para o investimento milionário que acontece, já que em troca há um retorno não só financeiro, como cultural e turístico.

     Fernando Guinato, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e diretor do Sheraton WTC, em entrevista para a CNN Brasil afirmou que desde o início do ano os eventos têm feito crescer muito a procura nos hotéis de São Paulo, já que a grande maioria dos shows internacionais acontecem na capital, e após a pandemia a busca por esse setor do entretenimento tem aumentado cada vez mais.

     Ao conversar com Vitor Lucas Gonçalves, funcionário do hotel Normandie, situado no centro da cidade de São Paulo, foi informado que mais da metade dos hóspedes durante o final de semana do show estavam ali para comparecer ao evento. Devido ao grande fluxo de reservas, são contratados funcionários temporários para dar conta da enorme demanda, que difere do restante do ano. Além disso, é o momento em que ocorre um lucro maior, já que o valor dos quartos varia pela demanda e com o quão próximo do evento foram feitas as reservas. ”Muita gente tentou reservar para essas datas nas últimas duas semanas, mas estamos com esses dias lotados faz pelo menos um mês”, afirmou o funcionário.

     Na Filadélfia, Estados Unidos, o Banco Central Americano chegou a citar Taylor Swift como responsável pelo aumento de lucro no setor hoteleiro, como reportado pela revista Forbes em julho de 2023. Assim como também ocorreu em Cincinnati, que faturou mais de US$2,6 milhões só em hotéis durante a passagem da cantora por lá. Ainda medindo o impacto econômico que a artista vem tendo pelas cidades por onde passa, a Billboard reportou que essa já é uma das turnês mais lucrativas da história com o faturamento total possivelmente ultrapassando US$1 bilhão, já que os shows devem seguir até o final de 2024.

    Na passagem da cantora pela capital paulista, alguns comerciantes das regiões ao redor do Allianz Parque mudam completamente a rotina para se adaptar a alta demanda de clientes que chegam junto com o evento, tanto nos comércios como padarias, restaurantes e bares, como os ambulantes que ficam ao redor do estádio vendendo produtos relacionados a artista, ou itens essenciais no momento como carregador portátil, capa de chuva e capa de celular à prova d’água. 

     Como é o caso da Maria de Fátima Cardoso, que possui um carrinho de cachorro quente a duas quadras do estádio, ela afirmou que tenta se organizar ao máximo para épocas como essa, já que muitas vezes chega a ganhar a quantia de dois a três meses de trabalho em um único final de semana. “Eu começo a me preparar pelo menos um mês antes quando ficamos sabendo que vai acontecer algum evento grande, aí conseguimos comprar mais produtos com os fornecedores por um valor menor e ter mais lucro, né? Nos dias próximos dos shows abrimos mais cedo e fechamos mais tarde, muita gente acampa do lado de fora do estádio então quem está aberto acaba vendendo mais”, contou.

    Ainda sobre o lucro da rede de comércios, Matheus Daniel, líder da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), explica como isso afeta o segmento: “Para o setor, é sempre muito positiva a movimentação das cidades, com as festas, festivais e shows, porque eles geram oportunidade de negócio”, reportou em uma entrevista em julho deste ano para a CNN Brasil.

    O público direto, que faz com que toda essa movimentação econômica aconteça, são os fãs que muitas vezes viajam de todos os cantos do país para realizar o sonho de vivenciar a The Eras Tour. Nos dias de show em São Paulo ainda foi possível encontrar fãs de outros países vizinhos como Bolívia, Chile e Argentina.

Foto: Aline de Meireles / Imagem capturada na fila do show no dia 24 de novembro de 2023.

     Ao conversar com os fãs presentes na fila para o show do dia 24, muitos se mostraram apreensivos, devido aos fatos ocorridos nos shows do Rio de Janeiro na semana anterior, nos quais devido às altas temperaturas e à falta de organização da equipe produtora do evento – a Time for Fun, muitas pessoas passaram mal chegando a desmaia;, e uma fã, de 23 anos, foi a óbito, além de ter um dos shows (18 de novembro) adiado.

Os fãs vêm do país inteiro, estados como Amazonas, Pernambuco, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Victoria Faccipieri Pitarelli, 20 anos, e estudante de Pedagogia, contou como foi para chegar ali: “Eu não moro tão longe daqui, sou de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Vim de ônibus para ficar apenas hoje e amanhã na cidade, vou ficar na casa de alguns familiares que moram aqui na capital.” A estudante afirmou que juntou dinheiro alguns meses para realizar esse sonho, cerca de 3 salários mínimos. “Era o sonho da minha vida, escuto a Taylor desde criança e é minha artista favorita, a música dela me ajudou nos momentos mais difíceis”, concluiu.

    Os fãs, auto denominados “swifties” relataram um pouco do motivo de gastar um valor alto com o show. Afirmam que muitas coisas que fazem parte da experiência acabam somando nesse valor, como as roupas personalizadas usadas pela maioria do público que fazem referência a roupas usadas por Taylor Swift, música ou álbuns lançados por ela. Assim como as pulseiras de miçanga presentes nos pulsos dos fãs, que fazem parte de uma tradição iniciada nos shows dos Estados Unidos, na qual eles compartilham pulseiras com frases que lembram a artista em referência à música “You’re on your own, kid”, presente no álbum mais recente da cantora, “Midnights”.

Foto: Camila Santos Soares / Imagem capturada por uma fã na fila do show no dia 24 de novembro de 2023, na foto é possível ver as pulseiras mencionadas acima e o número “13” que faz referência ao número favorito/da sorte da cantora, utilizado da mesma maneira que a artista usava em seus shows da primeira turnê do álbum “Fearless”.

Os shows do Brasil se encerraram no dia 26 de novembro, sendo os últimos de 2023. Em fevereiro a artista volta a performar, dessa vez em Tóquio, Japão. O fenômeno econômico acontecendo ao redor desse evento já vem sendo noticiado e estudado em diversos países do mundo e a movimentação vem sendo comparada com o sucesso de Michael Jackson, nos anos 90.

The Eras Tour como uma experiência completa

A artista Taylor Swift é conhecida pelo seu dom com as palavras e a forma com a qual a cantora consegue dar vida às histórias vivenciadas ou criadas por ela.

Como grande parte dos fãs brasileiros que entrevistei, conheci o trabalho da cantora em 2008 por meio do videoclipe da música “You Belong With Me”, que era transmitido inúmeras vezes nos programas sobre música da MTV. Mas acredito ter me tornado fã a partir do lançamento da canção “Blank Space”, do álbum ‘1989’, que chegou com uma sonoridade nova, entrando no gênero pop e saindo do country. Também foi a partir daí que passei a prestar mais atenção no que a artista queria passar em suas músicas e, desde então, tenho essa ligação com o trabalho dela.

Ao anunciar que traria a turnê para o Brasil, foi possível ver o fenômeno que Taylor Swift virou no país, a dificuldade de comprar os ingressos noticiado em diversos veículos de imprensa (como Folha de S. Paulo e O Globo) exemplificam bem esse fato. 

A experiência de vivenciar o show começou muito antes de novembro, já que, além de transporte e hospedagem, existe também o investimento em roupa e nas famosas “friendship bracelets” (pulseiras da amizade). Confeccionei cerca de 100 pulseiras (de julho a novembro) que faziam referências a trechos de entrevistas que a artista participou, nome das minhas músicas favoritas, trechos dessas mesmas músicas e títulos dos 10 álbuns de estúdio presentes na discografia da cantora. Ademais, a busca por inspiração de looks para o evento me levou a era “Reputation” onde predominam cores escuras, cobras e sapatos pesados como botas e coturnos.

Desde o início da viagem, no aeroporto, até chegar ao Allianz Parque, em São Paulo, para todos os lugares para os quais eu olhava, via fãs com camisetas ou objetos que lembravam a cantora. Todos estavam extremamente alegres, educados e simpáticos, o que tornou o tempo de espera para o show e as entrevistas realizadas muito satisfatório.

O espetáculo – já que acredito que a palavra “show” não é o suficiente – é inebriante do começo ao fim. São mais de 3 horas sem nenhum intervalo onde temos, como público, uma apresentação de toda a história de Taylor Swift como cantora e compositora, e somos levados por uma viagem através das eras/álbuns. Vamos de músicas calmas com performances mais teatrais, até melodias mais dançantes onde é possível enxergar o estádio todo (com o auxílio das pulseiras de LED que todos ganhamos ao entrar no Allianz)  pulando, cantando e se divertindo. Além das músicas e de pausas onde a artista conta um pouco do seu processo criativo e do motivo de estar regravando seus álbuns antigos para poder ter o direito autoral sobre suas composições, o palco possui diversas imagens projetadas que complementam cada narrativa apresentada. Posso afirmar que, sem dúvidas, é o melhor espetáculo musical que já presenciei.

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